
A cena parecia saída de um livro de memórias. Uma menina de nove anos, vestida de esperança, sobe ao palco do Auditório Samuel Celestino. Seu nome é Tainá Alencar e sua voz entoa uma canção que atravessa o tempo: a mesma “Ária de Narizinho”, interpretada pela pequena Suely Temporal em 1972, quando ainda era aluna da Hora da Criança. O passado se refaz em presente e se projeta em futuro. Era a forma mais doce e simbólica de anunciar o que todos aguardavam: a posse da primeira mulher a presidir a Associação Bahiana de Imprensa em seus 95 anos de existência. Diante do auditório lotado, repleto de jornalistas, autoridades, amigos e familiares, a jornalista e empresária assumiu, na noite desta quarta-feira (10), o comando da entidade em um clima de emoção e simbolismo.
A própria Suely havia se apresentado pouco antes, na abertura da cerimônia de posse, junto ao Grupo Vocal Pentágono. A solenidade foi conduzida pelos jornalistas Camila Marinho, da Rede Bahia, e Luís Filipe Veloso, do Grupo Bandeirantes, emissoras apoiadoras do evento, e contou com momentos de memória e homenagem à trajetória da ABI. Coube ao jornalista Antônio Walter Pinheiro, presidente da Assembleia Geral da instituição, realizar a leitura do termo de posse e oficializar o início do novo ciclo, depois de um dia intenso de votação em regime híbrido. Ele deixou uma mensagem de boa sorte para a presidente que chega. “É bem-aventurada aquela que pode, sorrindo e cantando, assumir pesados e novos desafios, que é a nossa nova presidente Suely Temporal.” “Eu tinha 32 anos quando José Jorge Randam me empurrou para a Diretoria, sob as desconfianças de Jorge Calmon, que temia me ver formar uma dupla de terroristas, com Agostinho Muniz”, brincou o ex-presidente Ernesto Marques em seu discurso de despedida. Emocionado, ele ressaltou a permanência da ABI como referência da memória e da luta pela liberdade de imprensa. “Ao completar 95 anos, a ABI diz que fica. Fica para reverenciar permanentemente a própria memória e assim colaborar na defesa da memória, da história e da cultura de Salvador e da Bahia.” Marques destacou a renovação e a relevância da entidade em um cenário de transformações sociais.
“O que fica é uma entidade inteira, renovada e mais viva do que nunca. Uma ABI conectada com a vida dos jornalistas e capaz de se fortalecer na contramão do obscurantismo, pregando respeito e empatia como condições para o pleno exercício das liberdades democráticas”, disse. “Nesta noite especial e inédita, também por questões de gênero, me alegra muito, como presidente da Associação Bahiana de Imprensa, agradecer à minha amada professora Cybele Amado pela sua presença efetiva, não apenas figurando como ‘primeira-dama’, mas colaborando decisivamente em muitas das nossas atividades”, reconheceu. Ernesto Marques preferiu não fazer do discurso um balanço, mas lembrou feitos como a celebrada Revista Memória da Imprensa, falou dos desafios que aguardam a nova gestão, a exemplo da situação financeira da entidade, e agradeceu nominalmente ao corpo de funcionários pela lealdade e compromisso nos tempos difíceis.
“Trabalhei muito para que a minha sucessora não fosse exigida nos limites aos quais eu fui submetido, e acho que a ABI que fica dispensa estes sacrifícios. Isso não significa desconhecer ou minimizar as dificuldades, muito pelo contrário. Até porque as dificuldades são bem conhecidas”, ressaltou. Antes de deixar o cargo, Marques fez questão de devolver o busto de Ranulfo Oliveira à entrada do edifício que leva o seu nome, na Praça da Sé. Ranulfo presidiu a ABI por 39 anos e foi um dos responsáveis pela construção do prédio que ainda é a principal fonte de receita da entidade.
Da infância que retornou em forma de canto ao futuro que se abre em forma de compromisso, ao assumir a tribuna, Suely falou com gratidão e firmeza sobre o peso histórico da sua eleição. “Assumo com orgulho e compromisso a presidência da ABI, sabendo que este momento não é apenas sobre mim, é sobre a história que estamos escrevendo juntos. Pela primeira vez em 95 anos, uma mulher ocupa este lugar, e isso representa um passo importante na caminhada pela equidade, pela representatividade e pelo reconhecimento das muitas jornalistas que fizeram e fazem a comunicação na Bahia”, afirmou.
Ela integra a Diretoria da ABI há dois mandatos, tendo ocupado a 2ª vice-presidência da entidade, e foi uma das responsáveis, entre outras iniciativas, pela criação do Protocolo Antifeminicídio, uma publicação que apoia a cobertura jornalística sobre crimes contra as mulheres. Temporal sublinhou o caráter coletivo da conquista. “Essa posse não é sobre mim, é sobre nós. Represento cada uma de vocês em uma sociedade onde o machismo estrutural impera. Precisamos insistir, porque promover a presença feminina em espaços de decisão é também enriquecer os processos com perspectivas mais humanas, cuidadosas e inclusivas.”
A dirigente também defendeu o papel central da ABI diante dos desafios contemporâneos. “Num mundo cada vez mais marcado pela desinformação, a imprensa livre, responsável e ética nunca foi tão necessária. A ABI precisa ser uma casa aberta, pulsante e plural, capaz de unir passado e presente para construir o futuro.” Um agradecimento especial foi direcionado a suas filhas Carícia e Milena, à sua mãe, Dona Nancy, de 91 anos, ao esposo Rubens Nunes, a Cynthia Medeiros, sua sócia há quase três décadas na premiada ATcom – Comunicação Corporativa, e à publicitária Juliana Montenegro, parceira da empresa por meio do Núcleo de Inteligência de Mercado.
Entre as autoridades presentes, a secretária de Comunicação de Salvador, Renata Vidal, classificou a posse como um marco histórico. “Não é apenas uma noite da ABI, mas da comunicação baiana e da história do nosso estado”, disse. A deputada Fabíola Mansur representou Ivana Bastos, primeira mulher a presidir a Assembleia Legislativa da Bahia em 190 anos de existência do Parlamento estadual. Ela destacou o simbolismo da eleição. “O que a ABI faz hoje é mudar a história da imprensa baiana, quando os jornalistas elegem Suely Temporal para estar à frente da entidade nesse triênio.” Da mesma forma, a jornalista Fernanda Gama, presidente do Sinjorba, reforçou a irmandade entre as duas instituições, reafirmando a continuidade da parceria que já rendeu frutos como a Rede Agostinho Muniz Filho de Combate à Violência contra a Imprensa.
No público estavam ainda nomes como o vice-presidente da Fenaj, Moacy Neves, o diretor-adjunto do Departamento de Comunicação Social da PMBA, tenente-coronel Marcelo Pitta, representantes de instituições religiosas e entidades culturais, empresários, acadêmicos, o gerente da Unidade de Marketing e Comunicação do Sebrae Bahia, Marcos Araújo, o jornalista responsável pela Agência Sebrae de Notícias, Pedro Otto, o coordenador do Comitê de Comunicação do Sinicon, Marcelo Gentil, o presidente da Hora da Criança, Mateus Russo, além de dirigentes de veículos de mídia, como Augusto Correia Lima, diretor Regional Norte/Nordeste do Grupo Bandeirantes, e Yêda Maia, diretora da Due Content, responsável pela Revista Viver Vitória.
Com a posse, a ABI inicia seu 48º ciclo diretivo, marcado pela representatividade feminina e pelo desafio de fortalecer a comunicação baiana rumo ao centenário da entidade. “Queremos entrar no segundo século como sempre fomos: atuantes e relevantes para a sociedade. E para isso será preciso contar com todos, homens e mulheres, sem distinção”, concluiu Suely.
Confira abaixo a Diretoria eleita para o triênio 2025-2028:
Assembleia Geral
Presidente: Walter Pinheiro
Vice-presidente: Luis Guilherme Pontes Tavares
Secretária: Helô Sampaio
Suplentes: Biaggio Talento, Wilson Midlej
Diretoria Executiva
Presidente: Suely Temporal
1º Vice: Raimundo Marinho
2ª Vice: Carmela Talento
1ª Secretária: Jaciara Santos
2ª Secretária: Nelson Cadena
Diretor de Finanças: Henrique Filho
Vice-diretor de Finanças: Antônio Matos
Diretor de Defesa DI/DH: Paulo de Almeida Filho
Diretora de Cultura: Yara Vasku
Diretor de Promoção Social: Nelson José de Carvalho
Diretora de Patrimônio: Sara Barnuevo
Diretor de Comunicação: Yuri Almeida
Suplentes: Fernando Duarte, Genilson Coutinho, Mariana Alcântara
Conselho Consultivo
Titulares: Emiliano José, Levi Vasconcelos, Joaci Góes
Suplentes: Jolivaldo Freitas, Zuleica Andrade
Conselho Fiscal
Titulares: Mariana Carneiro, Pedro Daltro, Valter Xéu
Suplentes: Eduardo Tito, Isabel Santos, Jefferson Beltrão
quer que eu deixe esse texto em formatação de reportagem do blog do anderson, com título e subtítulo prontos?