A rebelião dos deuses

Foto: Blog do Anderson
Foto: Blog do Anderson

Jorge Maia

Era uma manhã de domingo, a estação era outono. Um ruído pouco comum chegou aos ouvidos de Zeus. O café era servido por Afrodite. Irritado o deus mor perguntou do que se tratava. Mercúrio entrou esbaforido e comunicou a Zeus que os deuses estavam paralisados e que não iam trabalhar enquanto não tivessem uma reunião para resolver a questão salarial. Zeus irritou-se e atirou ao longe a taça em que sorvia o néctar dos deuses. Afinal, o que é isto, viraram rebeldes iguais a Prometeu?. Leia a crônica de Jorge Maia.

Saiu até a sacada do palácio e disse: voltem para o trabalho. Os humanos precisam dos nossos julgamentos. Os humanos são tolos e sempre querem ser julgados, em especial que julguemos os seus inimigos, é disto que esses pobres diabos gostam. Lá em baixo, meia dúzia de escravos segurava uma faixa de cem metros de cumprimento em que se lia: os deuses, unidos, jamais serão vencidos. Zeus estava perplexo.

Depois de muita conversa, marcaram uma assembleia e Themis, deusa da Justiça disse que queriam um aumento, era muito trabalhoso julgar os humanos, os quais a tudo querem judicializar, se incomodam com qualquer coisa e sempre querem dano moral, por qualquer insignificância. Se alguém tossir do outro lado da rua, o incomodado pode pedir danos morais. È uma trabalheira danada.

Naquele momento, interrompendo a assembleia, pedindo desculpas pelo atraso, entra Dionísio, justifica-se que fora parado por um soldado  que não lhe permitia a passagem, pois não possuía a prova da vacinação dos cavalos que puxavam a biga, ao que “Dió” respondeu que ele era deus e podia tudo. Mandou prender o policial que cumpria a lei.

Os deuses queriam aumento de salário. Zeus mostrou-se preocupado, alegando que não era tempo para reajuste e que o orçamento estava comprometido. Ademais,  um reajuste poderia ultrapassar o teto previsto na lei.

Tantos foram os debates que Zeus não sabia como resolver tudo aquilo e dizia: deuses, eu sou um deus, não posso resolver tudo.

Afrodite pediu a palavra e disse que embora não fosse possível reajuste salarial, seria cabível uma vantagem que não fosse parcela salarial e sugeria um valor como auxílio moradia. Foi aplaudida. Alguns diziam que tal medida era prejudicial a quem tinha moradia e não receberia aquele auxílio. A isso retrucou Netuno, o auxilio moradia é para que o deus more e não para que seja proprietário, o auxilio é para o ato de morar, portanto, todos têm direito. Foi aplaudido de pé. A questão foi resolvida.

O Olimpio ficou em silêncio profundo com  saída de todos. Zeus  passou a mão pela barba e pelos cabelos. A expressão era de cansaço e decepção. Não que ele desse valor aos humanos, esses pobres infelizes que rastejam pela terra buscando a vingança. Pensou, ora, eles que paguem pela sede de buscar na justiça tudo o que querem. No dia seguinte aumentou os impostos para poder pagar as despesas do Olimpo.  VC061214

 


Uma Resposta para “A rebelião dos deuses”

  1. fabio

    Mais que um grande advogado e um grande professor, esse “nosso Jorge Maia” é também considerado um grande artista. Só quem teve o privilégio de ser aluno de uma figura como esta, pode assim dizer, que ele é uma verdadeira enciclopédia de conhecimentos regados a mais pura simpatia e humor, fazendo com que o seu alunado jamais esqueça o conteúdo passado.

Os comentários estão fechados.