Fugindo da Terra

Foto: Blog do Anderson
Foto: Blog do Anderson

Jorge Maia

A história da humanidade é repleta de desencontros. São tantos os desencantos e sofrimentos desnecessários que o ser humano terminou por fazer da Terra um lugar desagradável. Não é sem razão que  as religiões prometem um lugar de paz, sem doenças, onde tudo é alegria. Tudo isso, como e fosse impossível construir em nosso planeta o paraíso tão desejado. A Terra foi transformada em um lugar onde a tristeza tomou conta, e ode parece não haver salvação. Leia a crônica de Jorge Maia.

A terra sempre foi administrada levando em consideração os interesses da minoria, de forma a contemplar os privilégios, assegurando a permanência de uma estratificação social. Se consideramos o desenvolvimento científico e tecnológico ocorridos nos últimos dois séculos, veremos que a distribuição das conquistas obtidas não chegaram para todos e que o exército de excluídos é numeroso. Chega a assustar.

Matamos. Matamos muito. A América, por ocasião da sua descoberta foi um palco de violência. A covardia praticada contra quem, em desvantagem, não podia se defender. Sem contar a violência contra a natureza, a qual agredida, procura, agora, dar a sua resposta. E, de forma impetuosa, porém proporcional à causa,produz efeitos desalentadores. Assim, temos uma Terra onde o sofrimento e a opção pelo pela desilusão permeia os nossos dias.

A busca do paraíso perdido ou da terra prometida povoa o sonho de cada um. A insatisfação generalizada, provocada por várias causas, é enriquecida pela impossibilidade de consumir todos os novos produtos lançados no mercado. Quem não consome as mais supérfluas das produções da sociedade de consumo sente um estranho no ninho, além de ser discriminado.

A febre do consumismo leva o ser humano ao modismo vulgar e à exploração de forma irracional dos recursos naturais. Conduzida nesse frenesi, temos a impressão que o último na face da terra como palavras finais: tudo está consumido.

É certo que há um jogo político que mantém o status quo, resistindo às transformações que poderiam fazer da Terra um lugar onde de onde o ser humano não quer fugir.

Manoel Bandeira, em Pasárgada, sua construção poética mais conhecida, revela a vontade de ir para ouro lugar, sair da Terra, buscando o seu canto de felicidade. A música tema de ” O Mágico de OZ”- Over the Rainbow- fala de um lugar existe acima do arco íris, onde  existe um mundo melhor.

As canções populares, a poesia e ainda outros tipos de manifestações artísticas estão repletas de historias da fuga do  ser humano buscando a sua paz. A conquista do espaço não é motivada apenas pela curiosidade de conhecer o mundo sideral, revela o inconsciente coletivo  manifestando a sua vontade de fugir do nosso planeta, como se fosse possível fugir da história, da cultura, do conjunto de fatos incorporados a nossa vida. Ora, é impossível fugir de si mesmo.

 A Terra é boa. A vida na Terra possui encantos necessários para a construção de um mundo melhor. A fuga deve ser de outros valores; da ficção criada pelo mundo ocidental, o qual valoriza em excesso o exclusivismo, o individualismo, torando a competição uma presença permanente no nosso dia a dia. Não mais sonhamos, no máximo aspiramos atingir o ideal de vida cujo modelo foi construído pelo conjunto de interesse de grupos, sem, contudo, levar em conta o universo paralelo do nosso mundo interior.

Nenhum de nós conhece lugar mais belo que  a Terra, de onde brotará leite e mel em todas as suas paragens, quando houver boa vontade, política.VC.160796


Uma Resposta para “Fugindo da Terra”

  1. PEDRO EUVALDO

    Concordo com o mestre decano da Uesb em numero, grau e genro. saudades daquelas discussões em sala de aula, há pouco, no seculo passado. Abraços nossos.

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