O “Esaú Matos” em fogo cruzado

Foto: Blog do Anderson
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Jeremias Macário

O propósito inicial da audiência pública na Câmara de Vereadores (dia 19/02) sobre a situação do Hospital Municipal Esaú Matos de não partidarizar a questão descambou em falatórios e ataques políticos com pedidos de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar a crise instalada na unidade, principalmente depois dos casos de parturientes que foram atendidas na recepção da casa de saúde, tendo uma delas perdido o bebê. Como sempre, fala-se muito nessas audiências (por sinal a Câmara estava lotada), mas os problemas humanos de urgência terminam sendo postergados com promessas de correções nas irregularidades como a carência de obstetras, reconhecida pela secretária de Saúde do Município, Marcia Viviane. Mesmo assim contemporizou que o hospital oferece serviços de qualidade e tudo está normalizado. Leia na íntegra a opinião de Jeremias Macário.

 No entanto, a fala do diretor da Fundação do Hospital, padre Edilberto Amorim, que se negou a dar entrevista a uma emissora local de televisão, foi dura contra o vereado Arlindo Rebouças que antes afirmou da tribuna do legislativo que o PT cometeu um crime por ter passado o Esaú Matos para uma instituição. “Aquilo ali é uma afundação e os funcionários foram iludidos”- declarou.

  Em tom mais exaltado, depois de elogiar a estrutura do hospital como referência na Bahia que atende pacientes de 75 municípios da região, padre Edilberto se empolgou com os aplausos dos partidários da Fundação criada  em 2012 e atacou o vereador Arlindo Rebouças, dizendo que ele nunca pisou os pés no hospital.

  Palavras ríspidas à parte, o que a comunidade quer é mais transparência da administração e que as vidas humanas sejam tratadas com dignidade e respeito como reza a Constituição. O diretor de um hospital, seja Fundação ou não, tem a obrigação de informar com clareza à imprensa sobre qualquer fato irregular que aconteça para evitar especulações e desconfianças.

  A questão está no fato da boa gestão e do atendimento qualificado, não importando se a entidade é administrada pela prefeitura ou por uma Fundação. O resto é partidarização que não interessa ao povo que necessita da atenção médica a qualquer hora da noite ou do dia. A secretária alegou feto natimorto e que a senhora que veio de Itambé estava sem a devida regulação. Quer dizer, então secretária, que num caso de urgência, a burocracia está acima da vida?

 Até quando pacientes, sejam gestantes ou não, vão ser renegados e jogados nas portas e nos corredores dos hospitais como vem acontecendo em toda Vitória da Conquista, como no Hospital Geral, São Vicente e outras unidades públicas? A população quer menos falatórios e mais práticas nestas audiências.

 O Esaú Matos, instalado há mais de 20 anos, conta com 104 leitos, 510 funcionários, 74 médicos, quatro residências, sete UTIs, 11 semi-UTIs, um Banco de Leite, laboratório e outros equipamentos, mas precisa ser ampliado para atender a demanda da região. Padre Edilberto sabe disso.

   O representante regional do Sindicato dos Médicos, Luis Almeida defende a ideia da retomada da unidade para a gestão municipal e diz que a criação de uma Fundação para administrá-la foi um equívoco. Segundo ele, quem perde é o povo e pediu que os fatos sejam apurados e os responsáveis punidos

 Na ocasião, o sindicalista, médico pediatra divulgou uma nota das entidades médicas (CREMEB-ABM E SINDIMED) onde critica o atendimento e acusa que a falta de materiais, condições precárias de trabalho e uma gestão autoritária resultaram no desligamento de vários profissionais do Esaú Matos que já foi ganhadora de vários prêmios. As entidades prometem elabora um documento (que tenha menos erros de português) e entrar com uma ação judicial para reverter a situação.

 O vereador Cícero Custódio, da Comissão de Saúde da Câmara, afirmou o que todo mundo já sabe, que é triste e lamentável o estado de saúde de Vitória da Conquista. A promotora Guiomar Miranda confidenciou que uma parturiente lhe procurou denunciando a não existência de plantonista no hospital. “Tornou-se histórico não se encontrar médicos em Conquista. nos finais de semana. Nossa saúde está necessitando de tratamento”.

  O diretor regional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Gutemberg Macedo lembrou que há quatro anos a entidade se posicionou contra a transferência da administração municipal do hospital para a Fundação por achar inconstitucional, reforçando também que os funcionários foram ludibriados. “O nome de Fundação Pública é um equívoco”.

 Sobre o Hospital de Base, para ele foi vergonhoso ter esvaziado a unidade quando da visita do governador. Gutemberg foi mais um a pedir uma CPI para apurar a situação precária da saúde de Conquista “que tem um dos maiores índices de mortalidade infantil do Brasil” e fez um apelo para que a Câmara seja mais independente para fiscalizar os atos do executivo.


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