Eleições 2018: Espírito Santo elege primeiro senador gay do Brasil e tira aliado de Jair Bolsonaro

Foto: Divulgação

Primeiro senador homossexual do Brasil, Fabiano Contarato (Rede) foi campeão de votos no Espírito Santo. Ele conquistou uma das duas vagas para o Senado e deixou de fora o senador Magno Malta (PR-ES), conhecido por demonstrações de LGBTfobia.Contaratofoi eleito com 31,15% votos válidos. Contarato é casado e tem um filho adotivo de 4 anos chamado Gabriel. “Sempre quis ser pai até que tomei coragem e me habilitei no processo de adoção. Quando cheguei na casa a porta tinha um vidro quebrado e vi um garotinho abaixando a cabeça para olhar. Transformou a minha vida”, contou em vídeo na campanha. Leia a reportagem do The Huffington Post.

O novo senador adota um tom discreto em relação a sua orientação sexual e nos discursos e publicações nas redes sociais reforça o lado religioso e a defesa de punições mais rígidas para crimes.

Em discurso após a vitória, ele lamentou ter sido alvo de fake news. “Jamais imaginei que fosse ser vítima de um ato de tamanha violência como fizeram com meu filho”, afirmou.

De acordo com a Gazeta Online, circulou uma imagem de Contarato com a família com informações enganosas de que defenderia cartilhas nos moldes do projeto apelidado de “kit gay”. Elaborado pelo MEC (Ministério da Educação) em 2011, o “Escola sem Homofobia” tinha como objetivo combater a discriminação contra pessoas LGBT desde o ensino fundamental, mas nunca saiu do papel.

Circulou ainda que o senador disse em entrevista a veículos de comunicação ser a favor de uma cartilha sobre orientação sexual, mas que o assunto deveria ser submetido à consulta popular. Também foi veiculado que ele era favorável a legalização do aborto, embora seja contra.

Quem é Fabiano Contarato
Nascido em 1966 na cidade de Nova Venécia (ES), Contarato formou-se em direito pela Universidade Vila Velha. Em 2016, foi nomeado corregedor-geral do Estado. O novo senador é professor e delegado de polícia da Academia de Polícia Civil do Espírito Santo.

Filho de um motorista de ônibus e de uma dona de casa, o novo senador prometeu uma “faxina moral” no Senado Federal. “A população capixaba demonstrou através do ato mais sublime da democracia, através do voto, que ela virou essa página da velha política. Mostrou que o peso do voto é o futuro que começa hoje”, afirmou.

Cristão praticante, o senador defende “a ética, a honestidade, a família e os valores cristãos” em seus discursos.

Uma das bandeiras do parlamentar vem da experiência na delegacia de crimes de trânsito. Ele conta que ouvia questionamentos de familiares das vítimas como motorista estava bêbado e não fez o teste do bafômetro ou o fato de o motorista não ter sido preso, mas solto sob fiança.

O delegado defende mudanças na legislação para evitar impunidade, além de melhora na assistência à família das vítimas.
Campeão de votos no Espírito Santo em 2010, Magno Malta dava como certa a reeleição. Esse foi uma dos motivos para desistir de ser vice de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa presidencial.

Pastor evangélico, o senador tem forte atuação no Senado contra a criminalização da LGBTfobia e contra a descriminalização do aborto.

Representante a bancada religiosa em audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o tema, Malta comparou o debate a leis ambientais. “Se, na pior hipótese, essa ADPF [de descriminalização do aborto] lograr êxito, vou emendar a Lei 9.630 para que o feto tenha o mesmo direito (à vida) que o ovo de tartaruga”, disse. A lei a qual se referiu, na verdade, é a 9.605, de 1998, que prevê sanções para crimes ambientais, como a coleta de ovos, larvas e outras espécimes da fauna silvestre.

Nos últimos meses, o pastor chamou atenção pela condução da CPI dos Maus-Tratos, no Senado. O colegiado que ele presidiu serviu como cenário de discussões sobre exposições com nudez ou obras relacionadas a sexualidade.

Na CPI, Malta promoveu violações de direitos e chegou a interrogar uma pessoa acusada de pedofilia. O advogado do homem não sabia do depoimento, e foi designado um advogado do Senado na hora. O diálogo entre os dois ficou público porque o microfone da sala não foi desligado, o que viola o Estatuto da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Filho de empregada doméstica e com curso de Pedagogia incompleto, Alessandro da Silva Santos contou que foi abusado na infância. Malta insistiu no assunto e o detento respondeu que não queria falar sobre o tema.


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