Psicólogo, André Porto Humberto partiu prematuramente após uma luta contra câncer. Ele faleceu neste domingo (10), em Salvador. No ano passado André Porto escreveu uma mensagem de agradecimento relatando os primeiros 45 dias da batalha: “Há 45 dias recebi uma das notícias mais desafiadoras de minha vida “você tem um linfoma”. Há 15 dias, outra notícia bastante complicada “é mais raro e agressivo do que pensávamos, o tratamento precisa ser diferente e intensivo”. Esse é um pequeno resumo de um grande vendaval que chegou na minha vida e na de minha família em 2021. Me colocou -na prática- o desafio de uma adversidade com o qual nunca lidei: um câncer. Como qualquer grande mudança, ela trouxe dores, angústias, medos e ansiedades, além de reabrir algumas feridas emocionais. Continue a leitura.
Também, a necessidade de aprender a lidar com esse novo momento da vida. Mas tudo isso também trouxe um espírito de união incrível em minha família: a companhia de minha irmã Gal; o cuidado tão importante e valioso de meu irmão mais velho Thiago; o dengo, amor e o cuidado de minha mãe Eunisce e de meu pai Luiz (fazia muitos anos que não tínhamos tempo para passar dias inteiros e tão agradáveis juntos); a alegria contagiante das primas Tay, Min e o pequeno João; a atenção e o cuidado de muitos tios e primos paternos, maternos e afetivos (o meu tio Enock tão presente, Tio Anselmo também); o abraço gostoso de tia Angela; o apoio e suporte dos meus sogros; o contato mais de perto com as sobrinhas Clara e Maria; e o afeto e cuidado (sempre presente) da minha super cunha/irmã Carla. Toda essa adversidade me deu uma maior certeza de como eu quero viver para ser o pai de Rodrigo, meu tesouro mais valioso, e o ajudar a trilhar pelos muitos caminhos de sua vida. Trouxe também a certeza renovada de que há 14 anos a vida colocou em meu caminho uma mulher fantástica e incrível, uma parceira para todas as horas, minha esposa Roberta. Sem você amor, nem sei como passaria por essa fase. Estamos juntos em mais um desafio nesta vida. Te amo muito! Além disso, eu ganhei tanto, mas tanto apoio e carinho de meus amigos, alguns da infância e adolescência, outros da vida adulta e profissional, que fico sem palavras para definir minha felicidade e gratidão a todos (as) eles. Isso sem falar dos meus queridos pacientes: muito solidários, cuidadosos e amorosos diante deste momento. Outra coisa maravilhosa: um espírito de paz e tranquilidade que me acompanha a maior parte do tempo. Uma vontade de crescer e amadurecer com essa experiência, de criar um propósito bom para tudo isso. Com todo esse desafio e susto trazido pelo câncer vieram muitas e muitas coisas boas. Uma oportunidade única de cuidar dos meus valores! Ainda tenho a possibilidade de virtualmente, seja onde estiver me cuidando, de fazer algo que amo demais: ser psicólogo clínico. Eu sou muito grato e confiante pela oportunidade de me curar e de fazer minha vida ainda melhor. Gratidão e paz!
Resolvi divulgar publicamente o que está acontecendo porque: Tudo foi super rápido, tenho familiares mais distantes, amigos, ex-alunos e conhecidos que não sabem o que aconteceu. E principalmente: acredito que uma das maiores dificuldades que pacientes oncológicos lidam é com a falta de informação e estigmas falsos na sociedade sobre o câncer. Alguém pode ter uma doença oncológica e ser perfeitamente atuante em muitas áreas da vida, inclusive no trabalho. Basta vermos inúmeros exemplos, como o prefeito de São Paulo Bruno Covas ou a apresentadora Ana Maria Braga que continuam suas vidas pessoais e profissionais, mesmo com o diagnóstico. A ciência avançou muito, e hoje a cura ao câncer é uma realidade grande para uma parte dos pacientes. Quero dizer a todos (as) que estou bem (de verdade! 🙂😊), me cuidando, meu prognóstico é promissor, estou com uma equipe médica/multidisciplinar que me traz confiança e segurança. Conto com a minha terapeuta incrível Yara Nico, que vem dando um suporte emocional sem igual neste momento. Também, a queridíssima e divertida Michaele Saban, me ajudando com suporte profissional no consultório. O câncer chegou em um momento que me sinto muito mais maduro e equilibrado. Tudo o que aprendi em minha trajetória sobre emoções e comportamento, especialmente nas terapias contextuais (ACT e na FAP) vem sendo uma base incrível. O tratamento ocupa apenas uma parte da minha vida, nas outras horas me dedico na medida certa a tudo que me deixa feliz e que mais amo: minha família, meus amigos e meus pacientes.
