“Infelizmente o machismo ainda perpetua na sociedade”

Numa semana dedicada às mulheres pela passagem do seu Dia de Lutas, que em 2010 completou 100 anos de instituição, o Piquete Bancário entrevistou a presidente do Conselho Municipal da Mulher, Marlúcia Alves Nunes, que falou sobre as políticas públicas voltadas para a mulher em Vitória da Conquista e a sua preocupação com os índices de violência que ainda persistem devido ao machismo que norteia a nossa sociedade.

Qual o papel do Conselho Municipal da Mulher?


O Conselho Municipal da Mulher  foi criado em 1997 e tem como objetivo promover estudos  e debates acerca das questões ligadas às mulheres e propor ao governo municipal e à sociedade Políticas Públicas em favor das mulheres.

Você poderia enumerar algumas conquistas a partir das lutas do Conselho?


Nós sabemos que o movimento de mulheres e o movimento feminista como um todo têm contribuído muito para a implementação das políticas e pela busca da construção da igualdade entre homens e mulheres. Em Vitória da Conquista temos alguns serviços, como por exemplo a criação da DEAM – Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, que existe há aproximadamente 6 anos, sendo uma política pública que funciona razoavelmente em função da luta das  mulheres. Nós temos o Centro de Atenção às Mulheres, que atende as mulheres vítimas de violência; estamos na luta pela implantação da Vara de Violência Doméstica; buscamos a instalação na cidade da Casa-Abrigo em Vitória da Conquista e a partir do governo Lula com a criação da Secretaria Nacional de Políticas para as mulheres nós acreditamos que essas lutas todas tomaram impulso. Ainda existem muitas coisas a serem conquistadas, mas graças ao movimento das mulheres temos alcançado muitas coisas importantes, inclusive a própria criação do nosso Conselho.

Sobre o Centro de Atenção, qual a importância deste trabalho?


Bem, o Centro foi criado aqui no município em julho de 2006 e vem atendendo as mulheres em situação de violência doméstica. Além dessa função de oferecer atendimento psicológico, jurídico e social às mulheres vítimas da violência doméstica, ele tem o papel de estar articulando a rede de proteção, porque nenhum serviço ele vai atender à sua clientela integralmente, então a nossa proposta é atender a mulher nas suas necessidades integrais através da articulação de todos os serviços existentes na cidade, atuando em rede. Quando a mulher chega ao Centro de Referência e apresenta diversas demandas em função daquela violência ela é atendida no Centro e é encaminhada para os outros serviços, como por exemplo, saúde, educação, outras orientações psicológicas, à DEAM se ainda não tiver prestado queixa, entre outros.

Em sua opinião a violência contra a mulher em Vitória da Conquista está num nível considerado alto?


Sim. Posso dizer que no Centro de Referência nós atendemos uma média de 30 a 40 mulheres/mês que procuram o serviço em situação de violência doméstica. Isso é considerado um índice elevado, principalmente por que nós sabemos que esses números não representam a totalidade das mulheres vítimas de violência. Essas são apenas aquelas que têm coragem de procurar um Serviço Público. Sabemos que o número de pessoas que procuram, por exemplo, a Delegacia da Mulher ainda é pequeno. É claro que nós sabemos que em função das Políticas públicas voltadas para a mulher, à Lei Maria da Penha as mulheres estão sendo encorajadas a denunciar, então essa quantidade de crimes que estão vindo à tona eu acredito que seja muito em  função  do encorajamento destas mulheres para denunciar. Infelizmente o machismo ainda perpetua na sociedade fazendo com que muitos homens se sintam os donos das mulheres, que eles têm o poder de mando e até da vida dessas mulheres e isso a gente lamenta e em função disso que estamos nesse combate em favor de quebrar essa desigualdade.


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