Gafanhotos e seca dizimam agricultura em Vitória da Conquista

Decreto do prefeito declarou situação de emergência no município pelo prazo de 90 dias

Juscelino Souza, A Tarde

Nem mesmo o suporte de 23 caminhões-pipa, levando água para 172 localidades, onde vivem 22 mil pessoas, consegue amenizar os efeitos da seca na zona rural de Vitória da Conquista (509 km de Salvador).

Os primeiros levantamentos, feitos pelas Defesa Civil e Secretaria de Agricultura do município, indicam perda de 90% da safra por causa da falta de chuvas regulares desde março do ano passado. Um decreto assinado pelo prefeito Guilherme Menezes, dia 4 de janeiro, declarou situação de emergência pelo prazo de 90 dias.

A seca age com maior voracidade em seis dos 11 distritos do município, dizimando as lavouras de feijão e milho, cujo plantio ocorreu em outubro de 2009, e deixando sem água rebanhos de bovinos e caprinos. Os gastos no combate à seca, segundo a Defesa Civil, exigem aporte de R$ 300 mil mensais.

Para evitar colapso maior, a distribuição de água é racionada, com a oferta de apenas 20 litros/dia por pessoa, nos distritos de Inhobim, José Gonçalves, Iguá, Bate-pé, Pradoso e Cercadinho.

Apesar da meteorologia ter previsto uma média de 142 milimetros de chuva no final do ano passado, em dezembro choveu somente 31.4 milímetros.

As perdas foram inevitáveis, pois a chuva não chegou como esperado e caiu distante das áreas de lavoura e pasto, e muitos lavradores haviam abandonado roças para buscar socorro nos cortes de cana em São Paulo.

“Se até março não chover, vou me juntar aos companheiros que partiram para Minas Gerais”, garante o lavrador Juvenal Nepomuceno de Oliveira, 48, residente na zona rural de Cercadinho, a 90 km de Conquista.

Ainda não se sabe a extensão do êxodo rural, mas o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conquista, Érico Oliveira, estima em mais de dois mil retirantes.

A maioria saiu dos distritos de Bate-pé e José Gonçalves, sem previsão de retorno.

Nesses dois distritos não há riachos, córregos ou minadouros. Água só quando chove ou levada em lombo de animais ou carros-pipa.

Em visita a algumas áreas, Oliveira constatou o drama dos lavradores, a exemplo das localidades de Pradoso e Saguim, a pouco mais de 12 km do centro da cidade. As lavouras de feijão e milho foram as mais afetadas.

“Para se ter ideia, em nossa terrinha de 15 hectares, a gente esperava colher 200 sacas de milho, mas só conseguimos 50 sacas, a muito custo”, ressalta o próprio Oliveira. As espigas foram colhidas pequenas, para evitar mais perdas.

“A redução no tamanho da espiga foi de até 20%. A situação é grave e não há previsão de chuva para salvar o restante da lavoura”, diz.

Culturas alternativas A saída tem sido apostar em culturas alternativas para suprimento de ração humana e animal, como plantio de palma, cana, leucena, capineiras de corte e feijão guandu. Ainda assim, em algumas delas, é preciso enfrentar outro problema: a invasão de gafanhotos.

Os insetos devoram brotos e retardam o crescimento das plantas – quando não erradicam por completo.

“Temos apanhado muito acreditando nas culturas tradicionais, como milho, feijão e capim nativo. Por isso, estamos mudando a forma de cultura para garantir nossa sobrevivência e dos animais.

São culturas mais resistentes e irão se adaptar à região” planeja Oliveira.

“Temos mesmo é que acreditar nessas culturas, porque é a alternativa nesta seca. A gente sabe que mesmo se chover por esses dias, pouca coisa será recuperada”, intervém o lavrador Hélio Soares. Reticente, só plantou pouco mais de 10% do que costumava fazer em anos anteriores. “Plantei pouco feijão, mas espero que a coisa mude para a gente plantar o resto”, finalizou.


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