Um colega pouco comum

Por Paulo Ludovico

Quem quiser contar qualquer caso – ou seria causo – do passado escolar de Conquista, certamente terá que falar do velho Ginásio de Conquista. Lá, foi diretor o Padre Luiz Soares Palmeira, o temível (e terrível) Padre Palmeira. A história de um e de outro, do padre e da escola, em certos momentos chega a ser uma só, tanto que, o velho ginásio ficou conhecido também como: o Ginásio do Padre. Padre Palmeira era o típico professor dos tempos passados. Sujeito inteligente e dono de uma cultura que impressionava. Mas, sabem os que estudaram ali, o “bicho” era sisudo e bruto, “igualmente” a uma cancela. Daquele tipo que não leva desaforo pra casa. Existe, na história de Conquista, prá lá de duas rusgas do velho Palmeira.  Anda vivinho por aí, muito cabra bom, outrora aluno do Ginásio do Padre. Cada um se lembra bem das idas e vindas daquele diretor. Gilberto Cardoso (apelido: de Tostão), Humberto Flores (é bom nem tocar no apelido desse aí, é caso encerrado e não se fala mais nisso), Elquisson Soares, Ubirajara Fernandes são apenas alguns dos que estudaram no antigo ginásio.

O padre Palmeira, além de estar à frente como diretor da instituição, também ia à sala de aula. E não havia um só vivente daquelas turmas que não temia a “ira do padre”. A cena era sempre a mesma, o padre “ministrando” aula e a turma ali, caladinha, pode-se até dizer que um chegava a ouvir o pensamento do outro, tal era o silêncio. Bom orador, o diretor sempre fazia valer o seu ponto de vista (e mesmo que não fosse correto, quem ousaria se opor?). E é nesse clima que o ano letivo se arrastava. Naqueles tempos, não sei precisar exatamente quando, Conquista devia ser um marasmo só. Mas, o que fazer? Ainda nem existia (por pouco tempo, é claro) o Massinha, pra botar fogo nas antigas micaretas!

Num certo dia, comum igual a tantos outros, o Padre Palmeira se prepara para mais uma aula. Os alunos, mesmo com todo o temor e respeito, próprios da época, tiveram a infeliz idéia de azucrinar a vida do sacerdote. Minutos antes da aula, os meninos, aqueles mais “encapetados” (em toda escola tem, falo de cátedra), trouxeram, das cercanias do ginásio (área onde muitos animais viviam soltos), um burro e o deixaram em pé, plantadinho na sala de aula, justamente na sala para onde se dirigiria o Padre Palmeira. Toca a sineta, pelo menos assim suponho eu, e lá vem o professor. Os alunos, escondidos do lado de fora, esperam pra ver no que a brincadeira iria dar. Alguns até já se arrependiam, mas… O padre entra na sala e fecha a porta. Passa o tempo, nada acontece. Lá se veio meia hora de aula e… nada. Alguns alunos começam a sair de suas posições, olham pra porta fechada e tudo calmo. Decepcionados, pois eles queriam ver o Padre palmeira enfurecido, se entreolham e… a porta continua fechada. O que teria havido com o velho Palmeira? Não seria mais o mesmo? Porque ele agia como se nada tivesse acontecido?

E assim passa todo o período de aula. Com indagações mil, todos retornam às suas casas e, no dia seguinte, a mesma rotina, logo pela manhã, aula. E com Padre Palmeira. O que acontecera no dia anterior já fazia parte do passado. De se estranhar, só o fato de a porta da sala de aulas se encontrar fechada. Sem dar muita importância ao detalhe, eles conversam até que, a porta se abre e o Padre convida a todos para entrar. No interior da sala em todas as carteiras, estrategicamente arrumadas. Havia uma prova. Ao lerem o documento (ou seria um atestado de óbito), percebem que as perguntas (cavernosas), contêm um assunto que ainda não tinha sido ministrado. Indignação generalizada. Como poderia ser aplicada uma prova sem aviso e, ainda por cima, sobre um assunto ainda não visto? Um dos alunos, talvez o líder da sala (se é que existia isso), se arvora (ou ousa) em perguntar ao padre:

– Padre, me desculpe, mas o senhor não se enganou? Pergunto, porque esta prova não foi marcada e o assunto não foi visto.

O Padre Palmeira, com seu jeito de intelectual e de quem é dono da situação, diz em voz firme:

– Marquei a prova sim e o assunto foi dado também. Por sinal, dei o assunto e marquei a prova na aula de ontem, quando o colega dos senhores estava presente. Perguntem a ele.


3 Respostas para “Um colega pouco comum”

  1. Mara

    De fato, esse padre era muito inteligente.

  2. Thiago Galdino

    a inteligencia supera a ignorância sempre, certo dias passados um primo meu, Luciano Galdino ao abastecer o seu veiculo perguntou se a maquineta de cartão de crédito vinha até ele a frentista respondeu “não a maquineta não vem mais eu posso trazer ela pro senhor” rsrsr coisas do dia a dia…

  3. daniel filho

    kkkkkkkkkk, vá sacana !!!

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