Pesquisadores apontam causas das manifestações

Foto: Blog do Anderson
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 Sentimento de tédio entre a juventude, crise da política representativa e guinada conservadora estão entre as hipóteses levantadas no debate “O que está acontecendo?”, realizado por pesquisadores do IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP, nesta sexta-feira (21). O diretor do IEA, Martin Grossmann, referiu-se ao debate como uma “UTI” montada para entender as manifestações. Professor de ética e filosofia política da USP, Renato Janine Ribeiro comparou a situação brasileira com a de países onde ocorreram revoltas recentes. Para ele, assim como a Espanha, o Brasil é uma sociedade democrática, ao contrário das nações que viveram a Primavera Árabe: “Talvez o problema, para nós, não seja tanto a opressão, mas o tédio”. Segundo Janine, o tédio esteve na origem da revolta de Maio de 68, em Paris.


Sylvia Dantas, professora de psicologia na Unifesp, foi na mesma linha e definiu o estado espírito dos brasileiros como “melancolia” e “impotência”. “As manifestações trouxeram vida, esperança. É um movimento de catarse. A insatisfação teve voz.” Nem todos, porém, acharam a explicação satisfatória. “Compartilho apenas em parte o ponto de vista de que o movimento nasceu do tédio ou eventualmente teve uma dimensão espontânea “, disse José Álvaro Moisés, professor de ciência política na USP, lembrando os oito anos de do Movimento Passe Livre.

Referência na militância de esquerda no país, o crítico literário Alfredo Bosi não conseguiu chegar à USP por causa de um protesto na rodovia Raposo Tavares e enviou sua intervenção por e-mail. Para ele, entre os ganhos do movimento está o reconhecimento do direito à manifestação: “Governo, imprensa, universidade e todas as instâncias envolvidas no processo são (ou ficaram) unânimes no reconhecimento do direito de manifestação de segmentos da população.”

Bosi apontou a crise da “democracia puramente formal e representativa em termos eleitorais”: “Seu descrédito merecido exige alguma resposta, ainda que difusa e insuficientemente articulada.” A questão também foi apontada pelo antropólogo italiano Massimo Canevacci e por Moisés. “Atualmente ninguém quer ser representado”, disse o italiano. “Existe uma afirmação crescente da autorrepresentação.” Moisés apontou o “enorme mal-estar com a democracia no Brasil”: “Os partidos fracassaram, inclusive os que nasceram dos movimentos sociais, como foi o caso do PT”.

Para Sergio Adorno, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, trata-se de “um momento de interrupção da comunicação entre os atores políticos”: “Os canais considerados legitimamente aceitos de comunicação e reivindicação parecem insatisfatórios”. Pelo Skype, Bernardo Sorj, professor de sociologia na UFRJ, lembrou que, apesar da importância da internet, os protestos mostram que a arena da política ainda é a rua: “Milhares de assinaturas contra Renan Calheiros não levaram a nada, mas milhares de pessoas na rua, sim.” Em nível nacional, segundo ele, a Copa foi o estopim dos protestos: “Deveria ter sido um momento de ufanismo, de orgulho, mas as pessoas viram obras públicas superfaturadas, associadas à corrupção. Foi o contrário do que os governos esperavam”.

A “guinada conservadora” observada pelos debatedores, principalmente nos protestos de quarta-feira, foi citada entre os possíveis desdobramentos do movimento. Lúcia Maciel de Oliveira, da Escola de Comunicações e Artes da USP, se disse “inquieta”. “Essa guinada conservadora é bastante preocupante”. Ela criticou a demora do prefeito Fernando Haddad para se posicionar: “Quando se posicionou, foi de forma conservadora”.

Alexey Dodsworth Magnevita, da nova geração do IEA, alertou a “fagocitação do movimento por parte de grupos conservadores”. Historiadora especializada no mundo árabe, Arlene Clemesha afirmou que no Egito há denúncias de que “bandidos” sejam pagos para manchar o movimento nas ruas. “Aqui também começam a aparecer grupos oportunistas, de caráter fascista.” O debate está disponível no site do IEA (iea.usp.br).

Folhapress


8 Respostas para “Pesquisadores apontam causas das manifestações”

  1. Eng. W. Anúnciação.

    As principais causas dessas manifestações; a demagogia e corrupção do PT aliados e PSDB!.E a falta de punição dos culpados,somadas a má aplicação do recursos públicos.Hoje,praticamente, passou a ser do domínio público mundial.Uma vez que os principais jornais do planeta reportou os momentos de democracia e violência, dessa manifestação – Denominada; Manifesto da Copa das Confederações.

  2. Eng. W. Anúnciação.

    Observação;OS PRINCIPAIS JORNAIS DO PLANETA REPORTARAM AS NOTÍCIAS.

  3. Nil San

    É preciso que os manifestantes que pertençam a qualquer movimento que lutam pelos seus direitos no Brasil, não queiram aproveitar da oportunidade das manifestações para chamarem as atenções para eles, pois o movimento é pelo País, contra a PEC 37, contra a corrupção, contra a impunidade dos colarinhos branco, contra a injustiça social e em defesa do povo Brasileiro, não queiram dar uma de espertos pois o alvo não é para um pequeno grupo de pessoas que só pensam em seus interesses seja quem for. O Brasil não depende de uma menoria senão o povo não estaria nas ruas, o Brasil depende da maioria.

  4. ISRAEL PEREIRA ANDRADE

    Gravem bem o que estou a dizer!.Depois de passados a efervessência e absolvido o impacto gigantesco deste movimento.Novas propagandas a favor dos governantes,em seguida novas pesquisas-“propagandas”;IBOPE,INDATA, DATAFOLHA etc,. E os governantes serão aprovados nestas pesquisas pela maioria dos brasileiros,segundo os pesquisadores.VEREMOS!!!.As propagandas e pesquisas de aprovação dos políticos e de intenção de voto.Ainda são muito fortes no Brasil.Influi por demais os eleitores, em todos os resultados apresentados pelos governos!.E neste caso, ‘O ÚLTIMO GRITO DE INDEPENDÊNCIA E LIBERDADE” dos brasileiros e brasileiras, qual sejam;as manifestações públicas em massa.Serão “silênciados” pelas propagandas governamentais.

  5. Luz13

    Aline Da Cidade das Pirâmides,em meio a uma passeata de estudantes, mas sem vandalismo! Vejam! http://www.youtube.com/watch?v=62b3f66OP60&feature=youtu.be

  6. onadru Sevla

    Além do que disse a professora Silvia Dantas, digo que há também no brasileiro desespero, perda esperança, um universo de corrupção e impunidade, criminalidade desenfreada uma constituição (“cidadã”), que respalda criminosos mantendo-os em liberdade pune quem é honesto, que vive detido em suas muralhas para manterem-se com vida, e que come os restos do que paga em forma de imposto sem receber nada em troca. isso traumatiza o cidadão.

  7. onabru Sevla

    vivemos a pior das ditaduras, da criminalidade, impunidade, miséria e da fome entre os pobres que ainda vivem por milagre de Deus.

  8. ONABRU SEVLA

    Mentes Históricas
    de Onabru Sevla/2013.

    ASSIM VIVEMOS:

    Sob os trançados fios
    da cerca de aço em espinhos.
    Passam os desvios.
    Sobressaem os mesquinhos.
    É a Pátria lesada em fraudes e subornos.
    Fatalidade se espera.
    Ha quem contemple a fome e a miséria.
    É a vida, é a Pátria, onde tudo se opera.
    E assim é a estrada sem paz e sem retornos.

    Há crimes, medo sede e fome.
    Vã é a vida de quem sem esperança.
    Onde na mesa nada se come.
    Sofre quem neste inferno se lança.
    Ai daquele que neste purgatório dança.
    Histórica é a mente demente.
    Que mente, que mata a semente.
    Que injusto tira a justa vida do homem.
    Que vai embora, se evapora, que some.

    No curso da opulência.
    Reina a vil delinquência.
    Eis aqui o templo das aparências.
    É o vândalo que na rua apita.
    Que à noite sua lei edita,
    Que ao muro picha.
    Ah! que bom ter quem acredita.
    Mas, ai de quem espera a tardia justiça.

    Oh! Deus da onipotência!
    Vede a Pátria sofrida, de pobre sem vida.
    Vede Senhor o homem que sem fé,
    que sem ti, sua alma demente é.

    Feliz é o sobrevivente inocente.
    Que a Deus é temente.
    Que aqui nada viu,
    Que só a Deus serviu.
    Que a ninguém feriu.
    Que deste vale partiu…
    recebeu o que a Deus pediu.

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