Sebastião Rodrigues Leite, um homem de princípios

Luiz IbiapabaLuiz Ibiapaba 

O poeta e dramaturgo alemão do século XX, Bertold Brecht, escreveu: “Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.”

Imprescindível. É com este termo que sintetizamos a figura humana singular de Sebastião Rodrigues Leite. Nosso saudoso imprescindível deixou de ser uma presença física entre nós, passando a ser uma presença-essência em nosso coração, em nossa consciência, deixando, em cada um de nós, suas infindáveis lições de vida e as lembranças que serão sempre saudades ressurgindo.

Leite

Particularmente, conheci Sebastião Leite em 1988, no memorável Governo J. Pedral/Hélio Ribeiro, ele era o guardião das finanças do Município, era o Tesoureiro da Prefeitura.

Na condição de Coordenador do primeiro Concurso Público para Professores Municipais, na sexta-feira que antecedia ao domingo, quando seriam aplicadas as provas escritas do aludido Concurso, encontrava-me reunido com o então Prefeito Hélio Ribeiro, a Professora Iza Medeiros, então Secretária Municipal de Educação, o Secretário Municipal de Administração, Carlos Humberto Pinto e com Sebastião Leite, para definirmos onde ficariam guardadas as provas que, naquela tarde, haviam chegado da Paraíba onde foram elaboradas. Foi aí então que Carlos Humberto sugeriu que ficassem depositadas em um cofre na Tesouraria da Prefeitura. Leite aceitou a proposta e estabeleceu duas condições: as provas só sairiam do cofre no domingo, a partir das sete horas da manhã e seriam entregues a quem detivesse a palavra-senha BANANEIRA, e só quem detinha essa palavra-senha era o Coordenador do Concurso. No domingo, às seis horas e vinte e cinco minutos, mandamos três servidores da Secretaria Municipal de Educação para pegarem o pacote contendo as provas. Chegando à Tesouraria, Leite já estava lá, só que nenhum dos servidores detinham a palavra-senha BANANEIRA, e ele, Leite, só entregaria as provas também a partir das sete horas. Foi aí então que eu, na condição de Coordenador do Concurso, fui até a Tesouraria e, as sete horas, depois de passar a palavra-senha BANANEIRA, no ouvido de Leite, tivemos liberadas as provas.

Um traço marcante do homem público Sebastião Rodrigues Leite era a disciplina que se manifestava em critérios que ordenavam suas atividades, numa demonstração de firmeza de personalidade que distingue os verdadeiros detentores de liderança dos que praticam o radicalismo de exibição.

Ellen G. White, escritora norte-americana do século XIX, escreveu:

“A maior necessidade do mundo é a de homens. Homens que não se compram nem se vendam. Homens que, no íntimo da alma, sejam verdadeiros e honestos. Homens que não temam chamar o erro pelo seu nome. Homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo. Homens que permaneçam inflexíveis pelo que é reto, ainda que aconteça tudo errado.”

Esse conceito whiteano de homem aplicava-se,  com tudo justeza no nosso intrépido Camacho.

Em janeiro de 1993, tive a honra de compor, na condição de Coordenador do Trabalho, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, sob o comando firme do Secretário Sebastião Rodrigues Leite, que, não obstante a instabilidade econômica pela qual passava o Brasil, naquela época, deixando o seu reflexo desestabilizador sobre toda a vida nacional, mormente sobre os municípios que, mergulhados profundamente na crise, enfrentavam sérias dificuldades para assegurarem um mínimo de serviços básicos para as sua populações, desenvolveu, frente àquela Secretaria, programas e projetos avançados tais como: habitação popular, apoio às pequenas e micro empresas, expansão das creches municipais, cursos de formação profissional, cursos de preparação para concursos destinados a jovens desempregados e de baixa renda, trabalhadores mirins (com adolescentes acima de 14 anos de idade), por meio de três projetos: meninos de feira, estacionamento rotativo do CEASA e engraxates mirins, implantação do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente e do Conselho de Assistência Social, realização do I Fórum da Criança e do Adolescente do Sudoeste da Bahia, realização da I e da II Semana Conquistense do Adolescente… Todas as ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social estavam contidas num plano articulado de ação social.

Certa feita, ia Leite e seus companheiros da FEB para um Congresso dos Ex-Combatentes, em Curitiba, e pararam no Terminal Rodoviário do Tietê. Lá, foram encontrados por um cidadão que o abordou: “O senhor é o seu Leite?” Leite, desconfiado, respondeu-lhe: ” Sim, sou seu Leite. E você, quem é? ” O cidadão sorridente e serenamente respondeu-lhe: “Seu Leite, eu sou Carlos, quando adolescente atuei no projeto do Estacionamento do CEASA. Vim com meus pais para São Paulo, estudei e hoje sou gerente de um dos restaurantes deste terminal rodoviário. Os senhores são meus convidados para serem servidos no restaurante que hoje gerencio.”

A vida de Leite foi assim, deixou espalhados, por todas as partes do universo por onde andou, fragmentos positivos de seu ser.

Sebastião Rodrigues Leite, em 31 de outubro de 2014, entrou, definitivamente, para a história deste Município como um homem que, passando por diversos setores do serviço público municipal, soube honrar as funções por ele exercidas, respeitando o dinheiro público, pois era um homem de princípios. E os princípios são leis eternas e universais.

 


Uma Resposta para “Sebastião Rodrigues Leite, um homem de princípios”

  1. RICARDO TELES

    QUERO ME ASSOCIAR A VOCÊ, LUIZ, NESSA JUSTA HOMENAGEM A LEITE.COMO FAZ FALTA NOS DIAS DE HOJE HOMENS PÚBLICOS DESSE QUILATE.

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