Parabéns, Vitória da Conquista!

Foto: Divulgação
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Ruy Espinheira Filho

Meu amigo Limongi, mais conhecido nos meios artísticos como Mini-Hippie, deu-me o folder. Vendo do que se tratava, senti-me, ao mesmo tempo, comovido e envergonhado. Comovido por ver como uma cidade do interior da Bahia ainda consegue resistir ao assédio das rádios dominadas pelo pagamento do criminoso (crime de quem paga e de quem recebe) “Jabá”, que vende quase todo o tempo para a veiculação do que há de pior na música nacional, e das emissoras de TV, cada vez investindo mais nos espetáculos de baixo nível. E envergonhado por constatar, mais uma vez, o quanto minha Salvador perdeu a capacidade de realizar algo de valor, na música e outras artes, como Vitória da Conquista realizou em sua festa do último Natal. Leia na íntegra o artigo publicado no A TARDE.

Bem, caros soteropolitanos, segurem-se, que aqui vão os nomes que estiveram presentes na bela festa conquistense – uns mais famosos, outros menos, mas todos fazendo arte acima da abominável massificação de hoje: Paulinho da Viola, Orquestra Sinfônica de Conquista, Evandro Correia, Léo Pretto, o Teatro Mágico, Projeto CAIM (Ciência, Arte, Ideologia e Música), Marcos Valle, Roberto Menescal e Patrícia Alví, Rosa Aurich, Pereira da Viola, João Bosco, Alisson Menezes, Grupo Mandaia, Fafá de Belém, Zeca Baleiro, Paulo Macedo, Yamandu Costa, The Fevers, Joeanne Bastos, Ana Cañas, Ladrões de Vinil, Marta Moreno, Toquinho, Suze Dias, Júlia Maia e Brincando de Cordas, havendo ainda uma Mostra de Teatro de Dança, Terno de Reis, uma programação de Corais, concurso de música, concurso de minipresépios, Memorial do Reisado – no CENTRO GLAUBER ROCHA – EDUCAÇÃO E CULTURA, com homenagem aos grande Ariano Suassuna.

Quanto à capital, o de sempre: axé, axé, pagode, pagode, “música” mecânica, bate-estaca, dupla sertaneja (de São Paulo…) etc. E ainda muito rockinho e habituais metralhadoras encordoadas dos trios elétricos. Proclamam: é o que o povo quer. Pergunto quando foi que governantes e gente de espetáculos e da mídia perguntaram alguma coisa ao povo. Nunca: neste caso o povo é apenas, de novo, explorado, para que a mediocridade e o ridículo possam faturar seus milhões habituais.

Não, não é o que o povo quer – é o que lhe impingem. Como o vazio de tudo é escandaloso, preenchem-no com o maior barulho possível. Com a barulheira, fica todo mundo atordoado, abobado, pulando num automatismo patético, cantando qualquer grosseria. Aliás, no Carnaval baiano dos últimos tempos, as “músicas” que mais fazem sucesso – e recebem prêmios – são as mais grosseiras, para dizer o mínimo. Tem gente achando que já estamos chegando ao fundo do poço – e desejando que isso aconteça logo, pois então não poderemos afundar ainda mais…

Se tais coisas hediondas são realmente o que o povo de Salvador quer, podemos deduzir que o povo de Vitória da Conquista é outro povo, povo bem diferente, talvez outra humanidade?  Não, a diferença é só de nível de interesse na cultura. Pelo visto, os políticos e administradores de Vitória da Conquista são bem mais cultos do que os da capital. Enfim, parabéns, Vitória da Conquista! Nós, os soteropolitanos que ainda temos algum amor à cultura e à arte, te saudamos com reverência e esperança!

Ruy Alberto d’Assis Espinheira Filho, mais conhecido como Ruy Espinheira Filho (Salvador, 12 de dezembro de 1942), é um poeta e escritor brasileiro.


Uma Resposta para “Parabéns, Vitória da Conquista!”

  1. Francisco

    Parabéns pelo seu texto Ruy. Não tiro uma vírgula!

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