Habemus ministro!

Foto: Blog do Anderson
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Jeremias Macário

Ministro é uma palavra latina de minister, tra, trum que significa, no adjetivo, aquele que serve, ajuda, auxiliar. No substantivo, minister, tri, ministro (de um culto), sacerdote, agente, instrumento, intermediário, que leva. Minister ales fulminis (ave que leva o raio).  Ministerium, ofício de servir, função, ocupação, trabalho. Tem ainda ministrator, oris, servidor, adjunto, assessor. Ministro, as, are, avi, atum, de ministrar, cuidar de, executar, dirigir, governar. Leia na íntegra mais um texto de Jeremias Macário.

 Em coluna da página de Opinião do jornal A Tarde (edição do dia 21/04), o secretário estadual de Cultura, Jorge Portugal, incensou tanto o ministro da Cultura, Juca Ferreira, que fiquei até com vergonha com tantas rasgadas pomposas de elogios. Não cai bem um secretário usar um espaço nobre de um jornal de grande circulação para fazer esse tipo de “manifesto” extravagante. Só faltou anunciar sua entrada: Eis o rei! Salve o rei! Salve o nosso imperador!

  Nessas páginas opinativas A2 e A3 do primeiro Caderno do A Tarde têm surgido comentários estritamente pessoais e de defesa de políticas partidárias que, no mínimo, são suspeitos porque os autores são do mesmo grupo, ou chefes da entidade que comanda. Tem artigo de formato tão dirigido que ele próprio perde a sua credibilidade, sem contar a posição nada confortável do veículo perante o leitor.

 Quando terminei de ler o texto do secretário, pensei comigo: Agora sim, habemus ministro no governo! Secretário, presidente de partido, ou quem assume um cargo público podem escrever sobre qualquer assunto, menos da sua pasta ou setor do qual dirige. Mais correto é evitar esse tipo de exposição. Fosse num impresso do interior ai chamavam de coisa de “jornaleco” que desvirtua o jornalismo e a informação.

 Depois de cinco anos de conferências no governo de Jacque Wagner, o Ministério se dá ao luxo de fazer caravanas da cultura pelo país a fora. Parece até que a pasta está nadando em dinheiro com festas entre amigos.

   Na passagem por Salvador, Juca Ferreira depois de apresentações estereotipadas da cultura negra, recebeu títulos “honrosos” de “ministro-estadista”, “Juca Ferreira 2.0” dados pelo nosso secretário de Cultura. Sentado num trono e cercado de batucadas, danças, cantos, discursos e outras babaquices, o ministro mais parecia com um pajé, um cacique ou um babalorixá. Tudo era só festa!

 Numa das referências à sua pessoa, Portugal apontou que ali estava o coautor e autor de políticas públicas que mudaram para sempre a cultura brasileira, citando o Cultura Viva, Mais Cultura nas Escolas, nas Universidades, Vale Cultura, PAC das Cidades Históricas, enfim, o realizador de uma gestão que nos colocou no caminho da cidadania cultural.

  Nem tanto assim, menos, menos, sr. secretário, que o andor é de barro! Lembre, sr. secretário, que o Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, em nossa cidade de Vitória da Conquista, está completando quase dois anos fechado para reformas. Aqui, os eventos culturais passam bem longe por falta de um local para recebê-los. A III Bienal de Artes Plásticas, por exemplo, ficou na Casa dos Carneiros, distante da cidade.

 A empolgação foi tão grande que ao final da sua coluna, o secretário descreveu que em meio aos abraços e arrepios ouviu uma voz soltar o verbo: “Agora sei que temos um ministro para chamar de nosso”. Fiquei aqui comigo pensando: Será que a cultura deixou de ser a cereja do bolo e não é mais apenas um jarro de flores na decoração dos governantes?

   Esqueci até da burocracia, do uso privado com o dinheiro público, dos privilégios, das desigualdades na distribuição dos recursos entre as regiões Norte-Nordeste e Sul-Sudeste, dos editais não pagos e dos centros deficitários e outros sendo utilizados por organismos estranhos como em Jequié onde lá está funcionando os serviços do SAC.

 


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