Academia do Papo: Política e políticos

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Paulo Pires

A história do Brasil nos remete a velhos e saudosos  políticos do Império e ninguém de fresca memória pode esquecer homens como Eusébio de Queirós,  Zacarias Góes de Vasconcelos, Afonso Celso, José Thomaz Nabuco de Araújo e o mais “festejado” dos políticos da época  que era o Barão de Cotegipe. Cotegipe, segundo a maldade inaceitável dos jornais da época, era o escolhido para deboche dos jornalistas de então. Ao contrário do conterrâneo baiano, Rui Barbosa, que se impunha pela notória inteligência, João Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe sofria nas colunas políticas. Maldade.  Pura maldade.  Por ser de origem aristocrática, o Barão nunca se deu às preocupações de se mostrar diferente do que era. E nunca foi o ingênuo que lhe quiseram pespegar.  Ao contrário.  Autor da Lei do Sexagenário, no ato de assinatura da Lei Áurea, Cotegipe disse para a princesa Isabel:  “A senhora nesse momento está redimindo uma raça, mas acaba do perder o trono.”.  Não deu outra. Leia na íntegra mais uma Academia do Papo.

Como se vê não se fazem políticos como outrora. Tudo na Política era feito e dito de forma mais direta, sem subterfúgios ou escamoteações. Daí se explica aqueles intermináveis debates sobre o Brasil que se queria construir. Alguns estados brasileiros se notabilizaram pela revelação de grandes políticos.  O Rio Grande do Sul, por exemplo, foi um desses.  A quantidade e a qualidade de grandes políticos oriundos das terras gaúchas é uma grandeza.  Bento Gonçalves, Júlio de Castilhos (o pai da pátria gaúcha), Gaspar da Silveira Martins, Flores da Cunha,  Pinheiro Machado, Antônio Augusto Borges de Medeiros, Leonel de Moura Brizola, Paulo Brossard, Pedro Simon, e,  por último,  o mais venerado de todos em nossa pátria que foi o senhor Getúlio Dornelles Vargas.

No Maranhão tivemos um Vitorino Freire, em Pernambuco Agamenon Magalhães, João Cleofas,  Barbosa Lima Sobrinho.  Na Bahia homens respeitadíssimos como Otávio Mangabeira e verdadeiros cérebros como Luís Aguiar da Costa Pinto, Alberto Guerreiro Ramos,  Luís Navarro de Brito e Edvaldo Machado Boaventura,  que antecedidos por Rui Barbosa e  ao lado de Anísio Teixeira formavam o creme do creme da inteligência baiana.

Da geração de políticos de São Paulo, destacaríamos Ramos de Azevedo, Carvalho Pinto, Roberto de Abreu Sodré e Franco Montoro, que infelizmente perfilam ao lado de nomes como os de Ademar de Barros e Paulo Maluf. Mas isso faz parte.  Não podemos esquecer que a mesma Alemanha que nos legou Beethoven, Goethe e Einstein, produziu o gênio tresloucado de um Adolph Hitler.

A Política é assim. Doutor Ulisses Guimarães, talvez o mais profissional dos nossos políticos, oriundo também da Paulicéia, dizia que nada na existência humana superava a beleza da Política. A Política, dizia doutor Ulisses é o altar dos seres humanos, o local onde o homem sente a fortuna da Glória em sua mais expressiva manifestação social. Políticos são seres que se comprazem com o reconhecimento dos seus Povos. O astuto Ulisses não escondia de ninguém e dizia abertamente: “Sou louco pelo Poder, seduzido pelo Poder  e é para isso que vivo”.   Mas, alertava o homem das diretas, não se pode fazer Política com o intuito de transformar suas ações em manifestos desejos de interesses financeiros.  Político que é Político não se dobra ao dinheiro. Ulisses nunca precisou de dinheiro para ser Político.  O que ele precisava era de Poder e isso ele tinha de sobra.

Saindo do latifúndio político nacional e caindo no roçado político regional, recebemos com alegria a informação  de que o ex-prefeito José Pedral Sampaio será homenageado com nome de avenida em Salvador. Nada mais justo.  Pedral era um Político que possuía a mesma visão de Ulisses Guimarães.  Nunca usar Política para ganhar dinheiro. Política para ele não tinha essa finalidade. Sua postura de homem público lhe assegurou durante mais de 50 anos, o status de homem ilibado, de Político que jamais usou dos cargos para enriquecer. Ele não precisava.  Era um aristocrata da Política.  Sua nobreza era ancestral.  Seus antepassados e sua história jamais lhe permitiriam cair nesse desagradável fosso que assistimos hoje em torno de diversos nomes que fazem Política no Brasil.

Pedral tinha procedência.  Basta lembrar doutor Sifredo, seu pai, que ao mudar-se para Salvador, colocou em um jornal conquistense que estava indo para a Capital e seu domicilio situava-se no Bairro da Graça, rua tal, nº X para o que colocava sua residência à disposição dos Conquistenses que precisassem de um local para ficar na Capital. José Pedral Sampaio, como doutor Ulisses sabia que “Em Política estar com a rua, não era o mesmo que estar na rua”. Ao ex-prefeito, vereador, professor e tributarista Edvaldo Brito nossas congratulações pelo reconhecimento.  Nossos parabéns e eterna gratidão dos conquistenses,  amigos e admiradores de Pedral.


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