Minas Gerais: após repercussão nacional, dono de boate cancela ‘rodízio de mulheres’

Fotos: Reprodução | EPTV
Fotos: Reprodução | EPTV

Após a repercussão que um cartaz que anunciava um ‘rodízio de mulheres’ em Poços de Caldas, interior de Minas Gerais, teve nas redes sociais, o dono da boate resolveu cancelar o evento. O estabelecimento já havia sido interditado na terça-feira (10) por falta de alvará. No cartaz divulgado nas redes sociais, a festa era anunciada para o próximo dia 20 de novembro. Nele era oferecido um “rodízio de mulheres”, em que o cliente pagaria “R$ 150 para entrar e ‘consumir’ quantas garotas aguentasse”. O cartaz ainda dizia que a festa seria “a mais louca e esperada de Poços de Caldas”. O anúncio também lembrava que era proibida a entrada de menores de 18 anos e que seria exigida a apresentação do documento comprovando a maioridade. Em entrevista à EPTV Sul de Minas nesta quarta-feira (11), o empresário pediu desculpas a quem se sentiu ofendido pela propaganda.

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“Minhas desculpas, porque eu nunca trataria mulher como objeto”, disse o proprietário da casa noturna, Ricardo Costa. Após a repercussão do anúncio e da interdição da boate, uma nova propaganda da festa na página foi postada na página do estabelecimento em uma rede social, só que desta vez, modificada. No lugar de “consuma quantas garotas aguentar”, estava a mensagem: “Pague R$ 150 e fique à vontade”. Segundo o proprietário da boate, a primeira propaganda divulgada não era a definitiva, mas uma prova gráfica. “O cliente pagaria R$ 150 para ficar à vontade na casa. Ele só não teria direito a bebidas, o restante da casa ele teria todo ao seu dispor”, acrescentou Costa. No entanto, ao ser questionado se por R$ 150 o cliente poderia se relacionar com quantas garotas de programa quisesse, Costa desconversou. “Essa é uma pergunta comprometedora”.

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Segundo o empresário, a festa segue o modelo de outras semelhantes, já realizadas em São Paulo. Em Poços, o evento aconteceria com 35 garotas de programa na boate que funciona há mais de 1 ano na cidade. De acordo com o responsável, o anúncio que em menos de uma semana viralizou pelas redes sociais e aplicativos de celular, despertou o interesse de clientes do Brasil todo, que confirmaram presença. “Nós já tínhamos caravanas marcadas do Mato Grosso do Sul, do Rio de Janeiro e de São Paulo, pessoas confirmadas e reservadas”, lamentou. A situação incomodou a presidente do Conselho dos Direitos da Mulher, Claudia Luciana de Oliveira Lourenço, que fez uma denúncia formal ao Ministério Público. Leia na íntegra a reportagem do G1.

“Nós entendemos que a forma como a festa foi divulgada expõe e deprecia demais as mulheres. Quando é colocado que os homens podem consumir as garotas, é uma maneira agressiva e como nós fazemos um trabalho de enfrentamento à violência, interpretamos que um cartaz como este incita o machismo e a violência contra a mulher. Nós temos uma preocupação com as garotas que trabalhariam nesta noite na boate, já que elas ficariam muito vulneráveis. É até uma questão de saúde também”, disse. O promotor Renato Maia, responsável pelo caso, disse que já pediu uma investigação sobre o caso. “Eu já requisitei da autoridade policial que seja instaurado um inquérito e pedi ao Corpo de Bombeiros que faça uma fiscalização ‘in loco’, para ver se a casa tem condições de receber qualquer evento que seja.  E vou tomar as medidas relacionadas aos direitos humanos, pedindo a interdição do evento em si, e não da casa”, declarou. Na boate, duas garotas de programa de 19 e 28 anos, que já estavam contratadas para a festa, falaram sobre o evento. “Ele conversou com a gente, a gente queria, porque seria uma ajuda para a gente mesmo”, disse uma delas. “Iria ter segurança e não seríamos obrigadas a nada. Teríamos uma festa para as pessoas se divertirem mesmo”, falaram.


Uma Resposta para “Minas Gerais: após repercussão nacional, dono de boate cancela ‘rodízio de mulheres’”

  1. Lidia Ferreira Rodrigues - Coordenadora da União Brasileira de Mulheres-UBM

    Tomamos conhecimento de um evento similar em nossa cidade e já estamos tomando providências pois colocar mulheres à venda, além de uma demonstração machista e patriarcal de que as mulheres ainda são tratadas como seres inferiores cuja humanidade é afrontada, reafirmam um tipo de escravidão. A sociedade e o Estado tem o dever de combater atitudes assim, mas sabemos que o objetivo será alcançado quando não mais houver mulheres que se submetem e homens, compradores, que buscam essa forma de dominação para afirmarem sua masculinidade – homens com essa mentalidade reproduzem a violência contra as mulheres, o estupro, o abuso moral e sexual no trabalho, não deixam a sociedade avançar pois influenciam crianças e jovens. Assim, se querem acabar todo tipo de violência, comecem por atuar na “instituição masculina”, pois todos que se omitirem desse combate são, com certeza, coniventes.

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