Jorge Maia: Tanto horror perante os céus

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jorge Maia | Advogado | [email protected]

Há uma passagem em O Nome da Rosa que me vem à memória nos momentos de incredulidade diante de certos fatos. O noviço Adso de Melk, impressionado com uma cena dantesca, pergunta ao seu orientador espiritual, Guilherme de Baskerville: Mestre haverá Deus se esquecido deste lugar? O mestre, em sua fé inabalável, responde: Há algum lugar em que Deus não esteja? Leia a crônica na íntegra.

O bom e velho Castro Alves já se manifestara, assobrado com a loucura da escravidão, onde Deus estaria ante tanto horror perante os céus. É verdade, para o homem comum não é crível que certos fatos ocorram, em especial quando tais fatos são frutos da maldade humana, da sede de poder e do escárnio em que se tornou a vida diante da atividade política.

No diálogo entre Deus e o demônio produzido em Fausto há um momento em que Deus, na sua humildade, depois de ouvir várias acusações sobre o mundo, pergunta ao demo: “Então no mundo nada há bom”?  Responde o demo: “Não, Senhor. Quando eu lá vejo passa até de ruim. Chega a haver dias que eu próprio tenho lástima dos homens, coitados! Nem me animo a atormentá-los”.

A resposta do capeta deixou-me espantado. Sempre fui implicado com isso. A  insolência da resposta, em desprezo absoluto pela autoridade maior, é desafiador, sobre tudo porque quer demonstrar que a criação maior de Deus, se que mereceria ser atormentada, uma vez que não precisam do demônio para ser infeliz. Pensei, nem o diabo nos quer.

O quadro internacional aponta para uma crise enlouquecedora, mas o quadro nacional denuncia a loucura instalada de modo profundo. Tão grave é a nossa situação que não seria demais atribuir ao demo o momento absurdo por nós vivenciado. Afinal, haverá Deus abandonado este País?

Os céus continuam assistindo aos horrores produzidos pelos homens, em especial pelos que governam. Os garis, os motoristas, os professores, os bancários, os estudantes não têm culpa por nada que está acontecendo. Tudo acontece conforme foi planejado. Desde mil quinhentos temos colhido apenas tempestades. Epa! Estou falando igual o demo! Não, eu acredito em coisas boas, em especial na bondade do nosso povo.

A falta de senso representada pelos três poderes atinge o patético. É algo que assistimos perplexos. Um País sem direção, o que é pior, sem oposição. A realidade nos conduz a perguntar: quem poderá nos salvar? 131215

 

 

 


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