Jorge Maia: O Céu de cada um

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jorge Maia | Advogado | [email protected]

Qual é o céu que desejamos após a partida definitiva? Não gosto da palavra morte, prefiro partida definitiva, assim temos a impressão de uma viagem longa sem a lástima de um fim absoluto. Mas o certo é que todos aqueles que acreditam em algum tipo de continuidade da existência imagina um lugar construído segundo as suas convicções, o que torna o céu uma variante multidiversa e algumas construídas com riquezas de detalhes, enfim varia conforme a pessoa. Leia na íntegra mais uma crônica do professor Jorge Maia.

Na poesia, Morte Absoluta, de Manoel Bandeira, há um verso em que ele pergunta:  Mas que sonho de céu pode satisfazer tenho sonho de céu? Eu era menino e não faz muito tempo, quando li aquela poesia pela primeira vez. Confesso que procurei responder a pergunta com as possíveis respostas de um menino, mas não me lembro o que respondi.

Agora adulto, fico a imaginar e querendo crer em um céu adequado aos novos tempos, porém bem melhorado e sem os entraves da burocracia que nos mata a cada dia com tantas exigências. Um mundo em que lenços e documentos serão coisas eventuais, mas não portá-los não significará motivos para nos levar a um distrito celestial para algum corretivo.

A mobilidade, penso, será suave, onde o deslizar sobre nuvens ou fluidos etéreos  pode nos conduzir por longas e belas paisagens, sem precisar de passaportes, carteira de identidade, sem alfândega, apenas portas de entrada e de saída, cumprindo o ritual do exercício da liberdade, do ir e vir.

Imagino, ainda, que dado o estado de fluidez do meio não será preciso internet e seus aplicativos, apenas o pensar será suficiente para o deslocamento no espaço e a realização de algum trabalho. Sim, trabalho. É preciso que haja algum tipo de trabalho, não é possível ficar eternamente sem fazer nada, afinal é preciso sempre buscar melhorias.

Natural que a idade, a experiência e a fé  conduzem cada uma a ter a sua imagem de céu. A ausência de fé não produz nenhum tipo de céu quebra a esperança de uma continuidade. Já construí vários céus. Conteúdos e formas variadas, modificados a cada fase da vida. Em todos eles fiz constar a existência de uma grande biblioteca, com todos os livros do mundo, em que eu tenha a oportunidade de ler àqueles que não li aqui na terra e reler outros quando sentisse saudade, ou necessidade de folheá-los. 100116

 


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