Euvaldo Contiguiba Gomes: A imperdoável Esquerda

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Euvaldo Contiguiba Gomes | Professor | [email protected]

De todos os erros cometidos nestes anos pela Esquerda, o que creio imperdoável, foi o não investimento na formação de novos quadros e a preparação de bases politicamente articuladas para garantir a resistência de seus projetos. As Esquerdas esqueceram uma lição básica do processo revolucionário, a lição de nunca morrer sem deixar um ou mais combatentes para substituí-lo. Esse erro foi estrategicamente construído no momento em que lideranças históricas chegando aos postos de comando dos partidos inviabilizaram as tendências que pensavam a partir da velha cartilha revolucionária de romperem radical e incondicionalmente com o mercado e por extensão com todo o modelo capitalista. Inviabilizou-se a transformação social em nome da governabilidade. >>>>>

As tendências contrárias foram dizimadas pela força das maiorias absolutas que começaram a expurgar de seus quadros partidários aqueles a quem atacavam de radicais. A esquerda que chegou ao poder, já não era esquerda, era tão somente um campo majoritário que fazia acertos mediante negociações, até mesmo dentro do partido para manter-se o funcionamento da máquina burocrática criada. Neste desenrolar-se uma nova classe de partido, uma social democracia, reformista e seguidora da cartilha neodesenvolvimentista toma praticamente todos os partidos de esquerda que chegaram ao poder, seja local, estadual ou federal.

A nova esquerda se definiu e guiou por dois fins: a governabilidade e por meio dela o reformismo. Desapareceu a palavra revolução e enfrentamento, cedia-se assim às negociações, aos consensos, ao pragmatismo eleitoral de vencer eleições a qualquer custo e com qualquer aliado. Nascia um modelo de esquerda para atender à Nova Ordem Mundial que apontava o fim do neoliberalismo e necessitava de partidos cuja credibilidade não tivessem ainda sido postas sob suspeita pelo povo, afinal vivendo em um regime democrático cuja centralidade decisória passa pela vontade popular através do voto fazia-se necessária essa credibilidade. Estes elementos criaram uma série de condições que elegeria ao poder em vários países da América Latina e, sobretudo, no Cone Sul (Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai), candidatos e partidos de esquerda. O feito paulatinamente foi se repetindo nos estados e municípios, afinal ninguém ganha o poder central a partir tão somente da capital quando se precisa do voto.

Olhando agora as duas décadas vividas dentro desse contexto perceberemos que em todos estes lugares tais representantes caíram ou estão em vias de cair. Uma Característica comum em todos estes lugares, a falta de renovação de quadros políticos e a ausência dos movimentos sociais. Em todos eles os partidos de esquerda estão presos às figuras que fizeram da política uma profissão. O velho modelo dos coronéis permaneceu dentro dos partidos progressistas onde não se viabilizou nem formou novas lideranças. Tão pouco mudou-se o modelo de democracia representativa para participativa com empoderamento do povo pela via das organizações comunitárias, sociais e de categorias. Ao contrário, todas estas foram enfraquecidas, desarticuladas e hoje seus militantes estão soltos sendo arrebanhados pelo pensamento conservador que varreu desde a classe média até o morador da última casa na periferia. Sobrou pouco de resistência e muito tempo levará para reaglutinar e rearranjar a disputa voltando a ter correlação de forças numa disputa por um novo modelo de sociedade.

O bom em tudo isso é que a Esquerda não está de tudo aniquilada, em alguns pontos de nosso mapa uma ou outra figura trêmula a bandeira da resistência. Das cinzas brotará um fogo novo, do caos surgirá novas formas de organização. Espero que aqueles que ainda se dizem esquerda, se dizem socialistas, se dizem comunistas revisem seus métodos, reavaliem suas táticas e redefinam estratégias para o embate que se dará daqui a 10, 15 ou 20 anos. Antes disso, qualquer acontecimento será acidente, fato isolado, pois não serão acontecimentos sólidos e que gerem mudanças estruturais em nossa sociedade pelo simples fato de que lhes faltará base e esta vem da consciência política e social a ser novamente formada nas novas classes trabalhadoras. A utopia do socialismo segue no horizonte e a ela devemos rumar. Resistir e Lutar até mudar!


2 Respostas para “Euvaldo Contiguiba Gomes: A imperdoável Esquerda”

  1. galvao

    algumas coisas sao verdades, como os velhos coroneis outras sao viagens, nunca existiu ou vai existir o tal socialismo da cartilha, existe apenas o poder pelo poder que todos querem

  2. ISRAEL PEREIRA ANDRADE

    O que é que tem a dizer:Paulo Pires.Paulo nunes ,Jânio de Freitas,Edwaldo Alves,Guilherme Menezes()…

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