Jorge Maia: Morador de Rua

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]

Todos nós moramos em uma rua. Quando nos perguntam o nosso endereço afirmamos que moramos na rua tal. Nossa casa, nosso trabalho, os nossos interesses, em uma cidade, sempre estará em uma rua. Afirmar que alguém é morador de rua nos remete à compreensão de que aquela pessoa mora, literalmente na rua. O lugar de cada um deveria ser no orçamento anual dos entes públicos. Ali, sim, deveria morar cada um dos cidadãos de uma cidade. >>>>

Em nossa cidade, mais grave no inverno, acordamos com a paisagem desumana formada por pessoas que moram na rua. Claro que é um fenômeno mundial e cada um que está em tal condição tem alguma razão, e que às vezes são muitas e variadas, tudo muito próprio de uma sociedade que não consegue superar os conflitos internos das famílias e terminam desaguando nas ruas as condições de não superação das dificuldades.

A realidade objetiva não nos permite levantar as questões de imediato, pois o imediato é sofrimento, o desconsolo e a dor de cada um. Daí a exigência da misericórdia das pessoas, da atuação de entidades religiosas, das atitudes individuais, mas sobre tudo a presença do poder público cuja premissa maior é resguardar a cidadania.

A nossa cidade, embora com alguns abrigos mantidos por instituições religiosas, carece de mais efetividade do poder público de modo a garantir um lugar para o pernoite, no mínimo, para aqueles desprovidos de um lar e para isso, no orçamento anual, é preciso fazer constar valor que garanta a condição mínima que permita abrigo para o morador de rua.

Morar na rua não é uma opção, trata-se de circunstância com muitas faces contidas na história da cada um, só reveladas em oportunidades em que um minuto de atenção pode produzir. É uma situação complexa e que envolve culpas coletivas e exige reparações de sentimentos. É preciso fazer retornar ao lar aquele que por tantas razões preferiu abandoná-lo.

Moradores de rua formatam uma fotografia da nossa sociedade, que indiferente, não age e nem cobra do poder público ação eficaz no sentido restaurar a dignidade dessas pessoas que têm a noite e as marquises como teto e não compõem o orçamento. VC271118


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