Alexandre Xandó: em quais localidades moram as vítimas da COVID-19 em Vitória da Conquista?

Foto: BLOG DO ANDERSON

Alexandre Garcia Araújo | advogado e professor doutorando pela UESB 

Os impactos da COVID-19 em Vitória da Conquista são cada vez mais desastrosos, o número de pessoas infectadas só aumenta e aliado a isso, o número de vidas perdidas. Por vezes, quando olhamos os números isolados nos informativos da Prefeitura [Municipal de Vitória da Conquista], não nos damos conta da dimensão da pandemia, por isso trazemos neste estudo alguns gráficos com base nos dados oficiais até o dia 4 de agosto. O primeiro gráfico mostra a evolução do número de casos, e segundo a evolução no número de óbitos. Vale destacar que o processo de reabertura do comércio, bares, restaurantes e academias se deu a partir de 1º de junho.

Atentando-nos para o número de óbitos, um questionamento que surge, é quem são essas pessoas que estão morrendo, de onde são e o que representam? Levar em consideração e tornar público da forma mais clara possível o perfil de quem a COVID-19 mata em nosso permite que o enfrentamento dessa pandemia seja mais ordenado e eficaz. Porém, essa informação não é trazida pelos boletins diários da PMVC [Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista], a origem das vítimas fatais da COVID é apenas citada, não sendo feita nenhuma análise mais apurada sobre o que esse dado representa. O gráfico a seguir apresenta a distribuição do número de óbitos por bairro e zona rural. Apesar de até o momento o bairro Candeias liderar o ranking do número de casos (213 pessoas infectadas), apresenta o menor número de óbitos (1 pessoa), enquanto que a maioria absoluta de mortes foram nos bairros mais periféricos de Conquista.

E o que isso significa? Segundo um estudo sobre a população negra e Covid-19: “reflexões sobre racismo e saúde”[1], as desigualdades sociais colocam populações em situações mais precárias de adoecimento e morte, sendo distinto o impacto de acordo com o lugar ocupado pelos grupos populacionais na estrutura social. É sabido ainda, que quem ocupa esses espaços desfavorecidos socialmente, é a população negra. Sendo assim, no Brasil e em Conquista quem morre tem cor e moradia definida, dados estes totalmente negligenciados pelo poder público municipal. Outro dado que é apenas citado e não analisado é referente às unidades hospitalares as pessoas estão morrendo. Abaixo um gráfico que mostra a distribuição de óbitos por unidade hospitalar. Acompanhe os dados na íntegra.

Essas pessoas estão morrendo em leitos são públicos, privados ou conveniados? A qualificação desse dado é fundamental para saber se as pessoas que estão morrendo são usuários do SUS, e consequentemente qual é a sua condição social. Ademais, precisamos ter conhecimento de quais setores da sociedade tem sido mais atingidos. Sabemos que os profissionais da saúde representam de 15 a 20% dos infectados, mas e qual é o percentual de comerciários, trabalhadores da indústria, etc.?

Finalizamos essa breve reflexão provocando a Prefeitura de Vitória da Conquista a apresentar em seus portais oficiais estudos mais aprofundados sobre a pandemia, como os índices de isolamento social, e outras informações necessárias para se identificar os focos mais graves da doença e as causas de sua proliferação em índices assustadores.

 

[1] SANTOS, MÁRCIA PEREIRA ALVES DOS; NERY, JOILDA SILVA; GOES, EMANUELLE FREITAS; SILVA, ALEXANDRE DA; SANTOS, ANDREIA BEATRIZ SILVA DOS; BATISTA, LUÍS EDUARDO; ARAÚJO, EDNA MARIA DE. População negra e Covid-19: reflexões sobre racismo e saúde. Agosto 2020


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