André Ferraro | sobre o Herzem Gusmão que conheci e a Vitória da Conquista que ele sonhou

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André Ferraro

Por algum tempo acompanhei de perto a trajetória de Herzem Gusmão rumo a Prefeitura de Vitória da Conquista. Minha presença começou em 2012, quando fizemos um jingle para o segundo turno, e algumas peças publicitárias para uma campanha sem recursos, tocada pela professora Maria Marques, que de Portugal fechava os programas. Uma luta desigual que por pouco não conseguiu ser vitoriosa, a despeito da falta de articulação e uma mínima infraestrutura. >>>>>

Herzem ali já mostrava seu potencial de votos, fincado em uma popularidade impressionante, de um comunicador nato, que por décadas muito bem traduziu a voz popular em seu programa diário. Nos aproximamos e sempre trocávamos impressões sobre sua condição eleitoral, acreditando num futuro melhor pra Conquista.

Foi nesse momento que se intensificou uma perseguição sistemática dos seus adversários políticos, que tanto marcou seu discurso e atitudes como prefeito. Muita gente reclama de algumas posições fundamentalistas de Herzem, sem reconhecer que a maior motivação para isso vinha de uma reação mais que natural de quem foi vítima do pior da política que busca fraudar a vontade popular.

Falo da forma como tiraram sua eleição de deputado estadual em 2014, anulando votos da coligação no intuito de roubar seu mandato, legitimamente conquistado nas urnas. E depois da condenação na justiça eleitoral em 2015, com o objetivo de cassar seus direitos políticos, e deixá-lo inelegível na disputa para prefeito. De nada adiantou, pois tudo deu certo, e Herzem assumiu a cadeira de deputado como suplente de Bruno Reis, que foi para a Prefeitura de Salvador, e depois, com a ajuda de advogados brilhantes como Ademir Ismerim, ganhou o recurso em Brasília, numa decisão da Ministra Luciana Lóssio que fez justiça e devolveu a condição de HG disputar a vitoriosa eleição de 2016.

Por saber de tudo isso, em nada me surpreende a atitude do Corpo de Bombeiros da Bahia de negar-se a fazer o cortejo fúnebre de HG. Mais um capítulo de um triste enredo ainda pouco conhecido, mas revelador da soberba, do preconceito dissimulado e do elitismo que Herzem, na sua simplicidade, teve que enfrentar, e que levou a reações irracionais de todos os lados, provocadas pela falta de diálogo e respeito.

Lembro que em Salvador, após assumir como deputado estadual, começamos a pensar sua atuação para 2016, e conhecer algumas ideias inovadoras de planejamento urbano, notadamente do arquiteto dinamarquês Jan Gehl, e sua Cidade Para Pessoas, e a experiência de Medellín com Jorge Melguizo, que nos inspiraram no plano de governo. Idéias que depois se transformaram em obras importantes, como a Nova Olívia Flores, a Nova Estação de Transbordo, os Calçadões, as Praças requalificadas, e os projetos ainda não finalizados de Jaime Lerner, maior urbanista brasileiro, que apaixonado por Elomar e apresentado pelo fotógrafo Alberto Viana, aceitou pensar Vitória da Conquista com Herzem Gusmão, realinhando a cidade ao avanço representado por Jadiel Vieira Mattos, nos anos 70. Sim, porque Conquista não foi descoberta em 1997 e tem uma história política a ser respeitada, e que a super memória de Herzem tanto ajudou a preservar.

Me engajei de corpo, alma e coração no projeto de Herzem, nesse sonho capaz de mudar a realidade das pessoas. Discordamos muitas vezes, coisa normal de duas personalidades fortes, e nos afastamos por influências externas à nossa amizade, mas nunca perdi minha gratidão pelos momentos felizes que ele me proporcionou na cidade do meu coração. Bebi a água do poço escuro e torci por ele, como torço muito para que Vitória da Conquista aprenda com a perda, e saiba refletir e superar essa guerra política que infelizmente ocupou muito o tempo de  Herzem Gusmão, e atrasou a implantação de algumas das ideias futuristas que faziam brilhar seus olhos e alma. Mas que, apesar disso, não o impediu de deixar a sua marca, e um legado que precisa ser continuado no que teve de melhor: a inovação. A vocação maior da cidade que ele tanto amou.

Fica nas mãos da primeira mulher prefeita da história da cidade essa tarefa. A alma feminina jovem e contemporânea de Sheila Lemos Andrade, pessoa direta e independente, certamente será capaz de fazer o que os homens não fizeram, e trazer mais sensibilidade para abrir outros e novos caminhos, dando um sopro de luz para construir uma cidade mais justa e desenvolvida. Uma cidade moderna e inclusiva, conectada com o melhor do mundo, com uma gestão avançada e inovadora, harmonizada pela diversidade, como Conquista quer e merece ser, e como Herzem Gusmão tanto sonhou. Que Deus a proteja e ilumine nessa missão, afinal é Ele que sempre está no comando, e a gente não pode nunca esquecer disso.

André Mauricio Rebouças Ferraro é publicitário e cientista político. Hoje é Chefe de Gabinete e Secretario de Desenvolvimento Urbano e Meio-Ambiente da cidade de Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador.

 

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