Jorge Maia | arquitetura do afeto

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jorge Maia | Professor e Advogado

Os afetos que em nós habitam são construções do cotidiano, da nossa vivência e da nossa espiritualidade. Spinosa afirma que afeto é tudo que nos afeta, certamente querendo dizer que existem bons e maus afetos. Somos sempre alvos de bons afetos, maus afetos e até de desafetos. Mergulhados em torrentes de sentimentos de um mundo que se desumaniza, estamos sempre em busca de um afeto, um gesto amoroso que possa adocicar a vida. A canção de Chico: “Com açúcar, com afeto fiz seu doce predileto”, revela que a gustação não é suficiente para prender a pessoa querida, o doce açúcar recebe o afeto carinhoso da feitura do doce para revelar a necessidade da presença do bem amado. A delicadeza do afeto revela a sensibilidade da alma e a nossa posição no mundo. Continue a leitura da crônica de Jorge Maia.

Nunca pensamos que há afetos ruins, mas sempre como sendo algo de bom. Costumamos dizer que alguém é afetuoso e com isso queremos dizer que é gentil, amoroso. Dono de uma empatia cativante e que traz em si a preocupação com o outro, pois enxerga em cada pessoa a dignidade humana, e nos demais seres, os valores da harmonia da natureza.

Afetos não significam gestos apaixonados, mas delicadeza. O afeto nem sempre é uma manifestação privada, ao contrário, é normalmente uma prática realizada em público; o bom dia ao porteiro, ao vendedor, o agradecimento pelos gestos mais simples, o respeito ao pedestre que cruza a faixa, embora contornado por amparo jurídico, o sorriso franco, não artificial. É um gesto de aceitação e acolhimento que adoça a alma.

O afeto constrói laços e simpatias, em uma arquitetura que amarra a alegria à cordialidade, humanizando a vida, preenchendo-a com a receptividade do outro, aquecendo a esperança de um dia de paz. VC030223


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