No Fórum da Beócia

Jorge MaiaJorge Maia

Ontem retornei à Beócia. Fui examinar um processo no fórum da JFBE ( Justiça Federal da Beócia). Preferi o roteiro da orla marítima de modo a apreciar a paisagem. Antes, passei pelo metrô de seis quilômetros cantados em prosa e verso, sendo a grande novidade daquela gente. Confesso que não é grande coisa.

Segui admirando a natureza, rica, mas decepcionada, suponho, com tamanho maltrato por ela sofrido. Coisas de gente beócia que não percebe a grandeza de tamanha dádiva e segue indiferente aos estragos que provoca, em busca do lucro, ou as vezes pela sobrevivência, uma vez que a fome não tem ética.

Que será, será

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Eu era menino, e não faz muito tempo, e em uma daquelas matines do Cine Ritz assisti ao filme: O homem que sabia demais. Foi ali que conheci  Hitchcock , Doris Day e James Stewart. O filme é de suspense  e para a época podemos dizer que era também um filme de ação, muito bom e sem qualquer efeito especial. Confesso que já o assisti muitas vezes. Não permita Deus  que eu morra sem assisti-lo outras tantas vezes.

Conta no Banco da Beócia

Jorge Maia

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Milas Fulam é deputado federal e foi governador de um Estado Federativo de um país estrangeiro . No tempo em que foi governado sofreu os mais severos ataques da oposição. Era considerado o mais corrupto de todos os governadores daquele país. Os ataques a sua moral era tantos que chocavam à opinião pública. Os valores que foram desviados dos cofres públicos  eram de assustar.

Houve um tempo em que as denuncias se tornaram tão graves que diziam que o seu e-mail era: [email protected], aquilo tornou-se um inferno, eram ameaças, denúncias e manchetes sobre a corrupção do ex-governador e agora deputado. Zangado, Milas ameaçou buscar indenização por danos morais junto ao poder Judiciário, ao que alguém  respondeu que não era possível danos morais em favor de que não tinha moral.

Viagens de um tropeiro

Jorge Maia

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Meu foi tropeiro dos dezessete aos vinte anos. Por três anos seguidos viajou conduzindo tropas pelo sertão da Bahia. Seu roteiro  era longo e passava pelas dificuldades e privações que o caminho determinava.

Partindo de Aracatu, seguia para Contendas levando mamona e algodão. A viagem era longa, o sol inclemente e iniciava a sua jornada logo cedo. A tropa descansava a partir das quatro da tarde, sempre em local que havia pastagem e ali permaneceria até três da manhã, quando os homens já tinha avançado em prato de feijoada feita com muito toucinho. Afinal, o trabalho era árduo e exigia sustança para aguentar aquele rojão.

A voz de Conquista

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, e acostumava ouvir uma série de ritmos musicais das mais diversas fontes, de modo que tenho um gosto variado, que vai dos Beatles a Cascatinha e Inhana. Ouvia a Rádio Clube, a Radio Bandeirantes com Hélio Ribeiro, a Rádio Jovem Pan com BIG Boy, Aroldo de Andrade da Globo, pela manhã. Algumas vezes ouvi a narração de futebol de Fiori Gigliotti: abrem-se as cortinas, começa o espetáculo torcida brasileira, era a copa do mundo, pela rádio bandeirantes.

Um ano depois

Jorge Maia

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Tudo começou há um ano. Foi na ultima semana de maio de 2013 que publicamos a nossa primeira crônica. Eu havia prometido a Anderson que escreveria algo para o seu blog e cumpri a promessa enviando um pequeno texto sobre a minha máquina olivett . De lá para cá foram cinquenta e duas crônicas em que retratamos algumas curiosidades sobre a nossa cidade. Mas falamos sobretudo da nossa querida Beócia, um lugar que chama a atenção por sua magia e por sua dessemelhança, um universo paralelo e arrudiado de realismo mágico. Seus moradores, tal qual Maria Periguete e Maria Joaquina do Amaral Pereira Góes, volta e meia estão fazendo das suas e não é sem motivo que encontro pessoas que perguntam: Onde fica a Beócia? Outros perguntam:  como vai a Beócia?  Respondo com um sorriso, deixando que tirem suas conclusões, pois sei que em breve elas entenderão, pois estamos falando da mais real das ficções.

Magnólia e Beleza Americana

Jorge Maia

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Eu sempre senti uma certa desconfiança com a mensagem contida na cédula do dinheiro americano: em Deus  nós confiamos. Como é possível  um povo tão religioso misturar dois  significados tão diferentes: Deus e César estão no mesmo pacote. Estranho, mas é assim. Um povo que possui bom desenvolvimento e  qualidade de vida, despontam como sendo um povo tolo. Seu crescimento deve-se mais ao cérebros que alugam  ou compram pelo mundo fora.

Perainda

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, quando eu ouvia minha mãe usar a expressão “perainda” sempre que alguém lhe pedia pressa, ou lhe cobrava uma resposta mais imediata e a usava mesmo na sua idade mais avançada, quando naquelas circunstâncias. Perainda, pensando bem, parece uma palavra tupi guarani, mas se pronunciada muito rápido e com um som mais gutural parece japonês.

O certo é que é uma palavra nossa, aqui do nordeste. Mas as palavras são assim, poéticas, pesadas, mansas ou agressivas. Talvez, ou certamente, o que promoveu o desenvolvimento do ser humano, em razão do poder de comunicação e aqui não vale citar o papagaio, que apesar de falar algo, não comunica criatividade.

Coisa de louco

 

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, quando ouvi a história narrada por Enésio. Para quem não se lembra ou não sabe, Enésio era engraxate e tinha a sua cadeira ali na esquina da praça Monsenhor Olímpio,  no passeio da loja da COOPMAC, no prédio de José Rodrigues, e que fica em frente ao chamado “Bigode de Pedral. Antes era um posto Shell, de José Rodrigues, e cumpria o seu  papel de posto de gasolina no meio da praça, como  é comum nas pequenas cidades. Depois, desapropriado, construiu-se um pequeno jardim elevado, na ocasião as escavações fizeram aparecer  uma ossada que na época atribuíram a um antigo cemitério indígena, apenas especulações. Hoje, o nosso viaduto.

Água p’ra quem tem sede

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, quando aos domingos eu realizava um passeio, levado por meu pai. Nós íamos ao poço  escuro buscar água para beber. Nós morávamos naquela rua que fica atrás do Tiro de Guerra e que é um corredor  que conduz para a praça Sá Barreto.

Era o inicio da década de sessenta e a cidade não possuía serviço de água tratada. Todos usavam água de cisterna, mas isso não nos era permitido. A nossa água estava comprometida. Nossa água era salobra e a proximidade de fossas tornava aquela água imprópria para o consumo.

O Canto da Sariema

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Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando meu pai levou-me até a sua roça, onde tinha um pequeno curral. Era em Aracatu, área de caatinga. A seca imperava e o sofrimento era grande. Cuidar do pequeno rebanho era ato de heroísmo, pois manter os animais era gastar tudo que tinha, como se estivesse comprando-os outra vez, tal era despesa para a sua manutenção.
Era um final de tarde e o eu o acompanhei a maior parte do tempo levado em seu colo, como se dia dizia antigamente: na cacunda, pois sendo magrinho não suportava a caminhada, embora não fosse tão distante da cidade. Para mim era um passeio. Ver a caatinga com seus arbustos retorcidos pela seca e sentir a tristeza da natureza, que, corajosa, insistia em viver desafiando o que todos chamam de destino.

Administrações Beócias – Segunda parte

Jorge Maia

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Ao fim da leitura do primeiro relatório, publicado na semana passada, fez-se intervalo e foi servido o jantar. A perplexidade era a tônica dos comentários e haviam os mais exaltados pregando a revolução com aplicação de severa punição aos corruptos. A conversa corria solta e os temas eram variados. Alguém informou que Dr. Francis chegara da Noruega, esta em período de férias e que possivelmente apareceria por ali, pois sempre desejou conhecer a Beócia. Na varanda outra pessoa falava sobre a Insustentável Leveza do Ser, do eterno conflito da liberdade e da opressão, concluindo que ” tudo que é solido se desmancha no ar”. Podemos afirmar que o papo era agradável. Bem cativante. Fernandão que chegou naquele momento, aproximou-se de um grupo que discutia qual era a série era melhor: Braking bad ou Família Soprano, sempre defendendo o segundo, particularmente penso que são bem diferentes não cabendo comparação.

Administrações Beócicas

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A curva do Gurutuba se aproximava e ao longe eu já avistava a casa sede do vale do Gurutuba. Era 28 de fevereiro de um ano qualquer. Fui convidado para assistir o desfile da Independência da Beócia que é o dia 30 de fevereiro. Preferi chegar com antecedência e aproveitar da presença de tanta gente importante que ali eu encontraria.

Hamlet de La Mancha não deixa por menos. Normalmente sou o convidado menos importante. Sou convidado por gratidão, tendo em vista que patrocinei, com sucesso, uma causa para Hamlet. Naquela noite haveria leitura de relatórios sobre a administração Pública dos diversos municípios da Beócia. Francamente, eu não poderia perder aquele instante tão revelador.

Amores em tempos diversos

Jorge Maia

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A literatura e a vida real estão cheios e exemplos de paixões amorosas, algumas chegando ao exagero negativo da escola romântica que adoeceu a alma nacional. Bom, de qualquer modo tudo isso é bem antigo e poderíamos tomar como ponto de partida o Livro de Gênesis, relembrando de Jacó e Raquel.

Jacó serviu Labão por sete anos para que tivesse direito a casar com Raquel. mas Labão entregou para o casamento a sua filha Lia, pois não queria ficar com a filha mais velha encalhada em casa. Jacó trabalhou mais sete anos para casar-se com Raquel. Ficou com a s duas, mas o preço foi para casar-se com Raquel.

Menino distraído

Jorge Maia

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Eu era menino, e não faz muito tempo, quando iniciei a levar o almoço o para meu pai e carregava a marmita pela rua afora. Morávamos no Alto Maron, naquela rua atrás do Tiro de Guerra e sempre próximo do meio dia eu fazia a minha jornada. Era portador da refeição para quem não podia vir almoçar em casa.

Havia um roteiro variado. Sempre seguindo a rua que ainda é lateral do Tiro de Guerra, saia na Rua João Pessoa, Rua da Boiada, e tantas vezes fiquei preso em uma das casas, esperando a passagem da boiada que descia ou subia a rua, assustado com a passagem de vacas bravas. Duravam alguns minutos aquele desfile. justificando o nome da rua. Encontrei abrigo na venda de ” Seu Perrucho ” onde nos domingos, depois do almoço eu comprava picolé ou variava com um refresco, que suponho que era Q-suco e seguia para a matinê.

Burocracia na Beócia

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Depois de padecer por muitos anos de doença intermitente, o Sr. Sousa faleceu. Assim era conhecido e tratado: Sousa. Sua morte causou muita tristeza entre amigos e conhecidos, era uma pessoa muito querida em toda a Beócia.. Mas a vida é assim e sempre haverá partidas definitivas.

A morte do Sr. Souza foi um daqueles fatos comuns do cotidiano que não chamaria a atenção de ninguém, não fosse um pequeno engano cometido pelo cartório ao realizar o registro do óbito. Na certidão, Sousa foi escrito com  z, quando, no caso, era com s. Foi um Deus nos acuda.

Menino curioso

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Jorge Maia

Eu era menino, e não faz muito tempo, quando às onze e trinta da manhã me dirigia para o trabalho de meu pai levando a marmita com o seu almoço, pois não almoçava em casa, tendo que trabalhar muito para dar conta de cinco filhos. O meu roteiro era seguir a rua das sete casas, atravessar a Caixeiros Viajantes( onde está o monumento ao índio) em que eu atravessa  tranquilamente, não havia sinaleiras e nem tantos carros.  Eu já almoçara e estava vestido com a farda da Escola Normal ( IEED), pois no retorno já era hora de ir para a escola.  Cruzava a praça e seguia pelo passeio do Cine Glória, hoje uma igreja. Antes de seguir olhava os cartazes dos filmes anunciados e me encantava, esperando o domingo chegar para assistir ao filme de faroeste ali anunciado.

A brecha

Jorge Maia

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Não recusei o convite de Hamlet de la Mancha e fui passar o carnaval no sitio do Gurutuba. Exigi duas coisas: que o clima fosse morno, com chuva de nível mediano e alguns raios e trovões e que no café da manhã tivesse fofão e chiriba, importados de Aracatu. Ele respondeu que tudo seria como eu pedi, mas, não dispensava a minha presença, pois haveria uma conversa sobre cultura popular e queria que eu contasse um daqueles casos da Beócia.

Conversa animada. Antônio Leal falando de cordel, Paulo Pires tocando Bossa Nova, Marcos Cabeleireiro comentado Breaking Bad, gente falando do neologismo de Guimarães Rosa e da implicância com as palavras que algumas pessoas manifestam.